sábado, 31 de outubro de 2009

Eu, Curitiba, Osmarina e Cinézio...






Eu, Osmarina, Cinézio e Curitiba, um caso de amor... Adorei a cidade!!! Esses novos amigos me levaram para dar um passeio pelos pontos turísticos, naquele ônibus sem teto, que é um barato... Muito bacana... Duas horas e meia de belezas, verduras, culturas, povos, gentes, histórias e artes curitibanas... Depois, fomos tomar um Irish Coffee (café expresso com uísque, ave maria, é irado!!!) e ver Elba Ramalho e Meninas de Sinhá no Guaírão!!! Tudo de Bom... I'll be back!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Eu continuo feliz e triste...

... se encantou hoje o fotógrafo , artista plástico e linda pessoa, mestre Fernando Fiuza. Conheci Fiuza através da Malluh Praxedes, quando ela trabalhava no BDMG e me convidou para o projeto Cantoras Daqui, que é fabuloso...
Fiuza era o fotógrafo oficial do projeto e me retratou de uma maneira tão especial. A Déa Trancoso das lentes do Fiuza é misteriosa, meio bruxa, de imensa sensualidade brejeira e sertaneja; bonita mesmo...
Ele me fotografou na casa dele, ali na Serra, em Belo Horizonte, em 2007...


Ao mesmo tempo, neste clic acima, ele me colocou com oito anos de idade. Todo mundo que viu essa foto me dizia: - "nossa, Déa, o Fiuza captou sua alma...".

Que ele descanse "nos campos do senhor...".

domingo, 25 de outubro de 2009

"EU ACHO QUE ESTOU FELIZ E TRISTE..."

Toda vez que um mestre se encanta, há no ar um cheiro de tristeza e alegria. Para muitos, pode parecer um paradoxo. No entanto, para quem já atravessou "o portal" é plenamente compreensível. Diz uma canção de kleber Albuquerque: "eu acho que estou feliz e triste, tudo que eu tenho cabe na minha mão, e eu te dou de coração, e eu te dou de coração... eu não preciso de nada, o mundo é minha casa, o céu é minha camisa, estrelas vestem meus pés... eu não preciso de nada, estrelas vestem meus pés...".

Toda vez que o criador chama de volta um mestre ficamos felizes e tristes. A tristeza é sentida pelo corpo material que acredita apenas no bocado palpável da existência. A felicidade é celebrada pela parte extemporânea, divina, sagrada, aquela consciência que enxerga além dos muros da "realidade". Este "algo" que chamamos de alma, de espírito, e de tantas outras coisas, exulta porque mais um SER viaja de volta à casa do Pai.

A história do planeta está intimamente ligada à sabedoria de seus povos antigos. À devoção daqueles que se curvam e se deitam no colo terra, a verdadeira mãe. É assim aqui no Brasil, é assim na África, ainda é assim com os aborígenes na Áustrália. Em todos os lugares, eles estão lá para dizer como foi, como é; nos legando a matéria-prima que nos faz ser o que somos: a memória...

A memória de um tempo que não foi nosso e que legitima e dá sentido a este que é o nosso tempo. A história do planeta é feita por aqueles que vestem os pés de estrelas, cuja roupa é feita de céu, que trazem nas mãos tudo que precisam e que, no último suspiro, devolvem, de coração, a quem é de direito...

Disse-me Geovana Jardim que as últimas palavras de mestre Nelson Jacó, um desses antigos filhos da terra, que se encantou essa semana, foram: "eu estou indo, meu Deus, eu estou indo...". Belíssimas palavras para um último suspiro! "Eu estou indo, meu Deus, eu estou indo...", bem que poderia soar como "eu acho que estou feliz e triste, tudo que eu tenho cabe na minha mão, e eu te dou de coração, e eu te dou de coração... eu não preciso de nada, o mundo FOI minha casa, o céu É minha camisa, estrelas VESTEM meus pés... EU NÃO PRECISO DE NADA, ESTRELAS VESTEM MEUS PÉS...".

Cada vez que o Criador chama de volta um mestre que tem os pés vestidos de estrelas, o céu fica mais iluminado. Cada passo que este SER ENCANTADO dá neste céu, uma trilha brilhante aparece para que a nossa saudade do futuro tenha abrigo, para que os homens não se esqueçam de lembrar, para que os lembrados continuem caminhando...

VIVA A MEMÓRIA DO SER ENCANTADO, DE CODINOME MESTRE NELSON JACÓ, QUE CAPINANDO, CANTANDO, TOCANDO VIOLA E DANÇANDO, DALI DO SEU CANTINHO CHAMADO JEQUITIBÁ, SERTÃO DO SERTÃO MINEIRO, DEIXOU UM RASTRO DE LUZ NA HISTÓRIA DA MÃE TERRA...

Déa Trancoso

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Projeto "Caminhos do Jequitinhonha"

CRÍTICA LIVRO

“A grande dor do homem, que começa na infância e prossegue até a morte, é que olhar e comer são duas operações diferentes.”

Simone Weil

Quando menino, levado por pai e mãe, freqüentava a igreja. Da atmosfera, toda a minha atenção. Do rito, quase nada, mas, deste quase, uma só frase me dizia: “Ele está no meio de nós”. A frase era senha de despedida, logo toda a gente se retirava, eu me lembro do silêncio que nos acompanhava até a saída, um silêncio que eu não sei até hoje se era de fora, se de dentro. Só sei que dentro de mim eu levava a frase, que comigo ficava, só ouvidos, mas inquieta, sentida sem sentido, o som desencarnado ainda.

Da frase, que guardo até hoje, me recordei ao deitar os olhos na beleza toda de livro que é o “Estórias de Luz”, de Marcelo Oliveira. O nome é justo e honesto e cumpre o que promete. Pois o fotógrafo grava em luz o que os olhos vêem e o coração sente. Paisagens, coisas e gente, gente, coisas e paisagens são presenças emprenhadas de substância. Marcelo ilumina estórias em que tudo se narra por um olhar que traduz contato em encontro, pois é olhar permeado pelo afeto e decantado pelo tempo: tempo real e subjetivo de vivência e convivência do fotógrafo e do ser humano com as paisagens, as coisas e as gentes do Vale do Jequitinhonha, nas Minas Gerais.

O olhar ligeiro não considera, não guarda, não apreende de cor, não se põe “entre”. Daí a beleza própria às imagens que não foram simplesmente [re]colhidas, mas pacientemente plantadas e [a]colhidas. Elas nascem de um “estar entre”, que só a fotografia pode proporcionar, pois o olho do fotógrafo é corpo desencarnado que, para ser preciso, precisa encarnar no que vê.

Para esse olho que simultaneamente olha de fora e vê de dentro “a vida não é só isso que se vê / é um pouco mais...”. Incorporar este “a mais” à imagem é desafio ético e poético: o vão que separa o olho do mundo não pode, nem deve, ser transposto: sua profundidade exige respeito e suas profundezas, consideração. Na plenitude e abertura à este vazio, o olho que fotografa deve conscientemente se instalar. Habitando este “não lugar”, tudo que separa torna-se caminho. E o caminho, assim como o vazio, está no meio de nós.

Raul Motta
Professor de artes/Rio de Janeiro

NOTA - O livro "Estórias de Luz - narrativa fotográfica do Vale do Jequitinhonha", do fotógrafo-documentarista Marcelo Oliveira, é fruto do projeto "Caminhos do Jequitinhonha", vencedor do Programa BNB de Cultura 2006 (área Artes Visuais - Fotografia), patrocinado pelo Banco do Nordeste. O livro tem o patrocínio também da Vivo e da Cemig.

A exposição "Caminhos do Jequitinhonha" passou por várias cidades do Vale do Jequitinhonha (Diamantina, Itamarandiba, Minas Novas, Bocaiúva, Capelinha, Araçuaí, Capelinha, Salinas, Almenara, Rubim, Serro, Jequitinhonha, Chapada do Norte, Carbonita, Jacinto e Itinga). Foi convidada para integrar a programação do projeto "Vozes de Mestres"/CCBB Itinerante, com patrocínio do Banco do Brasil, em seis cidades brasileiras (São Luis do Maranhão, Joinville, Florianópolis, Curitiba, Natal e Belém), e para o projeto "Conexão Vivo", passando por quatro cidades mineiras (Governador Valadares, Montes Claros, Resende Costa e Belo Horizonte).

O lançamento do livro acontece em Belo Horizonte, dia 5 e dezembro, na Status Livraria Café Cultura, 11h, com a presença do Coral Araras Grandes, de Araçuaí.

domingo, 18 de outubro de 2009

MULHERES QUE DIZEM SOM

OUMOU SANGARÉ
País de origem: Mali
O que faz: CANTA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! MUITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Clique aqui e vá à página dela na net.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Argentina de luto por três dias pela morte de Mercedes Sosa...

A Mercedes Sosa era da mesma terra do grande Atahualpa Yupanqui, o maior mestre de cultura popular daquele país, que, para mim, tinha a voz do vento... Mercedes gravou um disco apenas interpretando Yupanqui, imperdível!!!

Para dar um viva! à memória dos dois, ouça "Duerme Negrito", canção tradiconal latino-americana, recolhida, por Atahualpa, na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Atenção para a interpretação de Atahualpa: as divisões, os silêncios, a emissão ora suave ora robusta, o sopro na nota... De fato, parece o vento que canta:



segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ondéqué minino?

Clique aqui e veja exercício de polifonia com a cancão "Ondé Qué", de Sérgio Pererê, realizada com os participantes da oficina Corpo e Voz, em Joinville.
PROJETO VOZES DE MESTRES/CCBB ITINERANTE 2009

Vídeo Diana Gandra

CORPO E VOZ EM FLORIANÓPOLIS!!!








Corpo e Voz em Florianópolis... Momentos sublimes...
PROJETO VOZES DE MESTRES/CCBB ITINERNTE 2009

FOTOS DIANA GANDRA

CORPO E VOZ EM JOINVILLE!!!






Corpo e Voz em Joinville... Outros momentos sublimes...
PROJETO VOZES DE MESTRES/CCBB ITINERANTE 2009

FOTOS DIANA GANDRA

domingo, 4 de outubro de 2009

Mesa redonda no Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 - Florianópolis





A mesa redonda em Florianópolis nos trouxe as presenças dos mestres Gentil do Orocongo e Getúlio Manoel, e, novamente, para a nossa alegria, do professor José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília.

Mestre Gentil do Orocongo tem 64 anos e se apaixonou (palavras dele) pelo Orocongo aos nove, quando uma família de Cabo Verde chegou com o instrumento em Florianópolis. Ele é o único tocador, cantador e luthier de Orocongo América Latina que está vivo.

O Orocongo é um instrumento cujo som lembra o da Rabeca. É feito de uma cabaça grande, serrada ao meio, com um braço que possui apenas uma corda. À primeira vista, parece muito primitivo. Mas essa primeira conclusão não resiste a um segundo olhar, quando prestamos atenção à técnica que é empregada para tocá-lo. Quando comecei a prestar atenção em como os dedos de mestre Gentil passeavam pela corda, sem tocar o braço, percebi a delicadeza e a sofisticação que tinha de ser empreendida para obter melodias e harmonias satisfatórias.

"Naquela época, era porta com porta. A gente tinha vizinhos de verdade. Quando vi o Orocongo pela primeira vez, sendo tocado pela família de Cabo Verde, disse ao meu pai: eu quero um desse! Ele me olhou espantado: desse qual, menino?", lembra maroto.

"Aí, comecei a riscar o tal Orocongo lá de minha casa e o que que tocava, da família de Cabo Verde, riscava de lá da casa dele também. Nós morávamos porta com porta. Quando vi, eu já estava tocando nos cassinos do Rio Grande do Sul. Era meu distraimento. Quando, mais tarde, dei por mim, já não me via mais sem o Orocongo. Ele já era minha vida e eu já tinha amor por ele... Daí, para começar a fazer o Orocongo, foi um passo", diz emocionado.

"Hoje, toco e faço o instrumento, ensinando os que querem aprender o ofício. Ando viajando muito pelo Brasil. Recentemente, participei de uma turnê pelo SESC. Foi muito bom poder mostrar o Orocongo fora de Florianópolis. Quando cheguei em Salvador, os baianos disseram: como é possível que a gente não conheça esse instrumento, se todos os instrumentos da cultura africana vieram parar na Bahia? Eu respondi: pois é, esse aqui foi parar lá em Florianópolis para a minha alegria", conta.

Mestre Gentil alerta que é preciso não deixar a cultura popular morrer na casca. "O que as crianças têm hoje?", pergunta. E ele mesmo responde: "A morte. E nem ela é mais novidade, morre-se das maneiras mais banais. Todo dia está no jornal. Morre-se por qualquer coisa. Ter progresso não resolve nada se não tiver ninguém para viver esse progresso. Quem não tem memória, não tem nenhum futuro!", diz.

"Hoje em dia, nem o ovo tem mais gosto de nada, gente! Eu vivi num tempo bom, muito bom mesmo. Quem viu, viu. Quem não viu precisa pelo menos de alguém que possa contar como foi. Essa é a nossa missão", conclui enfático.

Já mestre Getúlio Manoel tem 58 anos e é pescador, músico e escritor. Desenvolve trabalho social com a comunidade de pescadores do Campeche, ao sul da ilha. Ensina a arte de preparar redes e tarrafas, coordena o projeto "Música no Rancho da Canoa" e contribuiu para a criação do projeto "Pescando Letras", do Governo Federal, que já alfabetizou mais de 500 pescadores nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Faz parte também da história de mestre Getúlio Manoel uma coisa bastante interessante e curiosa. Ele é filho de "seu" Deca, histórico morador do Campeche, e sempre ouviu, desde criança, os relatos de seu pai sobre a passagem dos franceses pela ilha, especialmente de um tal de "Zé Perri", que não é ninguém mais, ninguém menos que Saint-Exupéry.

Seu pai, Deca, foi, sim, amigo do mítico criador do pequeno príncipe. Ele conta as saborosas histórias dessa amizade no livro "Deca e Zé Perri", lançado de maneira independente e já na segunda edição. Provavelmente, as histórias da aviação ligadas à sua própria história, à história de seu pai e às histórias do lugar onde nasceu, tenham influenciado sua ida para a Aeronáutica, na qual serviu como músico durante 20 anos.

Hoje mestre Getúlio Manoel divide seu tempo entre a pesca artesanal (principalmente da tainha) e o resgate da memória histórica do Campeche, além da escrita e da música.

"Acredito que o amor só significa alguma coisa quando é compartilhado", diz relembrando "Zé Perri", como ele agora também chama Saint-Exupéry. "Aprendi a fazer rede aos três anos. Hoje, ensino aos jovens o que sei. Passo para a frente. O aspecto social no Brasil ainda está muito doente. Nós ainda sentimos falta da mão amiga do governo local. Temos várias coisas ligadas à cultura popular dos anos 40 e 50 que estão esquecidas. Seria interessante que isso fosse para a sala de aula. É na educação que o povo se fortalece", diz veemente.

"Houve um lampejo no Brasil e agora a gente já sabe e aceita que existe música de negro também no Sul. Mas ainda há uma grande distância entre o esforço que a sociedade civil faz e a confiança que o governo deposita. E a gente só respeita o que a gente conhece profundamente. É nisso que se deve investir. Nas oportunidades de gerar conhecimento da história do Brasil para os brasileiros. Nem que seja para poucos interessados como estes que estão aqui a nos ouvir", opina.

"Lá no Campeche, tem uma porção de mãos estendidas, querendo repassar o conhecimento da cultura da pesca, por exemplo. Num país com uma população mais cidadã e mais esclarecida, isso prontamente seria aproveitado tanto pela sociedade civil quanto pelos governos. Mas, no Brasil, a coisa ainda é muito lenta. Ainda está restrita aos abnegados que se põem a resgatar a coisa feito heróis", desabafa.

O Vozes de Mestres vem cumprindo sua vocação que é dar voz aos mestres. Daqui, de ali, de todo Brasil. Nos diz, ao final, Mestre Gentil do Orocongo: "O progresso chegou, mas o terno de reis sumiu". São questões para a gente refletir e continuar caminhando na missão de, ao dar voz aos mestres, fazer surgir as estradas que possam ser formalmente pavimentadas com as belezas da cultura popular brasileira.

VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Déa Trancoso a serviço do Festival Internacional Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 . dia 22 de setembro de 2009, 19h, no Teatro Álvaro de Carvalho - Florianópolis/SC

FOTOS DIANA GANDRA

Mesa redonda no Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 - Joinville

Na mesa: eu, mestre João Schmitz, professor José Jorge e mestre Gildo Quitino

Oi minha gente!

Em Joinville tivemos em nossa mesa redonda as presenças dos mestres Gildo Quintino, do Boi de Mamão Entre Parentes, e João Schimitz, do Terno de Reis Estrela Guia, além do etnomusicólogo da UnB, Universidade de Brasília (Departamento de Antropologia), José Jorge de Carvalho.

Os dois mestres são de fato apaixonados pelo que fazem. Quando falam de suas experiências, os olhos brilham... Parecem duas crianças, cheias do vigor e da alegria próprios daqueles que vivem a vida para valer. Mestre Gildo Quintino nos trouxe inúmeras questões interessantes. "Tudo que a gente não repassa para a frente acaba no fundo do baú", foi sua primeira fala.

"Então, desse modo, resolvemos ativar essa brincadeira na nossa família mesmo. Primeiro, eu e meus irmãos, como forma de alegrar nossos pais. Agora, já temos os filhos e netos. Por isso é que botamos o nome de "Entre Parentes". São 22 pessoas. Todas da família", diz.

"Lá no início, quando a gente resgatou o Boi de Mamão, a gente pensou: vamos fazer a brincadeira sim. A gente sabe fazer o boi, sabe cantar e sabe tocar. Atualmente, nós já estamos lincados com a educação. Temos projetos com algumas escolas para passar para frente a história do Boi de Mamão. E isso é um desafio e dos bons. Estamos na estrada também; viajando e mostrando o nosso boizinho", diz sorrindo.

"Eu gosto do que faço!", afirma categoricamente. "Eu olho para uma pessoa, tiro verso, faço desafio. Eu tenho esse dom", revela. "Eu ensino a criançada a fazer o boi. Tenho uma oficina de construção de Boi de Mamão. E sou perfeccionista. Quando não fica bom, desmancho e faço outro. Para isso não precisei de estudo. Quando alguém me pergunta se sou letrado respondo que sei o suficiente para ninguém me lograr", continua.

"Para brincar o boi não tem idade. É de 2 a 100 anos! Meu netinho de um ano e meio fala poucas palavras e uma delas é boi! O outro, de sete anos, já faz quatro personagens", finaliza orgulhoso.

Mestre Gildo Quintino prepara para 2010 o Encontro Nacional de Folclore, em Joinville, e diz que o poder público tem que investir mais e pegar a vontade e o trabalho que os mestres da cultura popular têm e fazer florescer. Segundo ele, essa é a missão do Estado.

Mestre João Schmitz nos conta que se "apaixonou pela cultura popular" muito cedo. Seu Terno de Reis Estrela Guia trabalha com composições próprias e também é familiar. "Todos participam. Tocam e cantam. O que podemos fazer de melhor é deixar para as futuras gerações aquilo que nós acreditamos", avalia.

O que mais entristece João é que a surpresa que é uma das características mais marcantes da Folia de Reis está cada vez mais impossível. "Antigamente, a gente chegava sem avisar. Hoje, as família pedem para avisar por causa da violência", diz.

Desde os 14 anos, mestre João Schmitz está no Terno de Reis. Seu pai tocava Gaita de Ponto. Assim, vendo o pai, foi "pegando experiência". Em 1975, se dedicou a resgatar o Terno de Reis em Joinville. Hoje, existem mais de 20 grupos atuantes.

Para ele, a ligação com o sagrado é o mais bonito da cultura popular. "Desde a hora de compor, eu me recolho e invoco a ajuda do alto. As canções sempre trazem mensagens de paz, alegria, amizade. Aí falam do nascimento de Jesus, dos reis magos, da vida de Maria. Depois, agradece e se despede dos donos da casa", ensina.

Para o mestre João, garantir que todos os ternos tenham um tratamento igual nos palcos dos festivais que participa também é muito importante. "No palco, todo mundo é igual!", conta.

O professor José Jorge jogou luz em várias questões que passeiam em torno da cultura popular e ainda não têm respostas satisfatórias. "Quando participo de encontros como esse e escuto as falas dos mestres, tenho a impressão de viver em dois brasis bem distintos. Dois brasis que não conseguem se conciliar. Quando você viaja e está em momentos como este que estamos agora, você vê um Brasil, mas quando você liga a TV, é outro Brasil. Esse não está lá, assim como não está na universidade também. A não ser em pequenas doses, em programas bastante específicos e raros que existem na TV Educativa".

Para José Jorge, o maior desafio é aproximar esses dois mundos. "Encontrar projetos que a médio prazo unam os mestres, a universidade, a escola secundária", diz confiante. "Incluir os saberes, as artes e os ofícios da cultura popular é a nossa meta. Na Universidade de Brasília, que é a instituição onde atuo, estamos discutindo a criação de cursos livres de artes e ofícios, no quais os mestres da região centro-oeste serão os professores. Essa reflexão já está em fase bastante avançada", continua entusiasmado. segundo ele, é necessário que a gente gere uma consciência a respeito do assunto.

E essa é uma das missões do Vozes de Mestres. Gerar consciência, através de um tipo de encontro capaz de trazer novamente questões como essa à baila para que pelo menos elas sejam conversadas pelos que se interessam. Fazer que com esses encontros sirvam para que essas pessoas que se interessam se conheçam pessoalmente, reflitam e troquem experiências e informações das realidades fora de sua comunidade.

É preciso muita determinação, paciência e fé para tratar de assuntos que dão trabalho. Mas, quanto mais eu viajo pelo Vozes de Mestres Brasil afora, mais percebo e concluo que a cultura popular é remédio para a alma e está se transformando, ainda que lentissimamente, num eficiente remédio para nossas mesas. Gera riquezas e está, com certeza, entre os indicadores financeiros que faz o Brasil crescer...

VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Déa Trancoso a serviço do Festival Internacional Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 . dia 19 de setembro de 2009, 19h, no no Cau Hansen - Centro de Convenções Alfredo Salfer - Joinville/SC

FOTO DIANA GANDRA

sábado, 3 de outubro de 2009

Ramiro Musotto, por Juan trasmonte...



El mais grande del berimbau

El talentoso músico argentino, también productor y compositor, murió ayer en Brasil, a los 45 años, a pocos meses de haber sido diagnosticado de un cáncer de estómago.


Juan Trasmonte
12.09.2009

Tristeza não tem fim.
En los últimos años logró el merecido reconocimiento entre el público argentino, que lo extrañará.

Rondaban los fantasmas de Malvinas en Bahía Blanca. Ramiro Musotto estaba echado en la plaza con sus amigos, mirando las estrellas. Dijo que quería ir a Brasil a estudiar el berimbau de su admirado Naná Vasconcelos. Pero fue mucho más allá. Como dijo Zeca Baleiro, de la Bahía Blanca a la Bahía Negra.

Empezó a investigar la batería electrónica cuando nadie lo había hecho todavía en Brasil y fue uno de los diseñadores de esa percusión bahiana que explotó en las voces y los sudores de Daniela Mercury y Margareth Menezes. Laburando en estudios, en Salvador primero y en Río después, grabó, con y para todo el mundo, unos 200 discos, de Caetano Veloso a Marisa Monte, de Sérgio Mendes a Titãs.

Cuando Diego Frenkel, por ejemplo, fue a Río a grabar percusiones para La Portuaria esperaba llegar al estudio y encontrarse con una docena de negros recién bajados del morro. Se encontró a Ramiro. Él solo era la batucada.

Lo conocí en el bar Picote –que yo llamaba “mi oficina”–, en Río de Janeiro. Me miró desconfiado. Le hacía ruido que otro argento le ofreciera la posibilidad de que Sudaka, su primer CD solista que ya daba vueltas por Brasil y Estados Unidos, fuese editado en la Argentina que se le venía negando. Y al estilo argentino me dijo: “¿Cuánto me vas a cobrar?”. Nos convertimos en hermanos instantáneos.

Fue el empujón para regresar a Salvador y dedicarse de lleno a su propia música. Ramiro encontró completamente enchufado entre bits y cueros el cable invisible e inasible que une los sonidos ancestrales de África y América Latina. Tornó modernos a los indios xavantes y tradicional al octapad, aunque el berimbau, con la piedra en la mano y la calabaza en el vientre, siguió siendo su instrumento madre.

En 2005 formó en Francia la primera orquesta de berimbaus, arrancando sonidos alucinantes con instrumentos en diferentes afinaciones. Así andaba, llevando sus cañas y su Mac de Grenoble al carnaval de Salvador y de la ceremonia de los Panamericanos a la Buenos Aires que había dejado de ser misteriosa y ya tenía una corte de fans que bailaban atrás de su trío.

Lo que no se ve en los discos: vivió con la filosofía Vinicius del arte del encuentro, siempre juntando gente de origen variopinto. Y él, que como buen percusionista siempre andaba con exceso de equipaje, esta vez viajó muy leve. Y muy temprano.

* Matéria do publicada pelo jornal "Crítica de Buenos Aires/Culturas/Edición Impresa".

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AOS 45 ANOS, O GRANDE RAMIRO MUSOTTO SE ENCANTA...

FOTO MARCELO OLIVEIRA


Ontem, fazendo algumas pesquisas na net, me deparei com a notícia da morte do percussionista argentino, radicado no Brasil (em Salvador/BA), Ramiro Musotto. Gênio na sua escolha de fazer do som percussivo sua comunicação com o mundo, Ramirito, como era suavemente chamado pelos amigos que o conheciam mais de perto, deixa eterno legado.

O legado do percussionista que inovou, trazendo para o berimbau, que parecia ser seu grande amor, luzes, cores e tons que modificaram para sempre o jeito de ouvir o som deste instrumento. Disse certa vez em uma entrevista que ao ver Naná Vasconcelos tocar o berimbau, se apaixonou e nunca mais foi o mesmo. De fato, Naná, e depois Ramiro, deram à beriba um lugar de destaque na Música. O que antes era apenas um instrumento exótico de percussão, ganhou lindo e corajoso lugar no mundo da melodia e da harmonia.

O legado do ser humano bacana que ele foi. Tive a alegria de tocar com ele num show que fiz no Teatro da Biblioteca, em novembro de 2007. Aliás tive alegria dupla de juntar nesse mesmo concerto, Ramiro e Djalma Corrêa, outro grande percussionista! Fizemos algumas músicas do CD TUM TUM TUM, depois, ele fez um solo de berimbau tão impressionante, que, em certa altura, achei que tinha um pianista no palco, tamanha delicadeza de sons que ele conseguia daquele "irmão-instrumento", e finalizamos, eu, ele, Djalma Corrêa e Serginho Silva (outro percussionista interessantíssimo) fazendo "Berimbau", de Baden e Vinícius, numa grande ode à beriba.

Descobri o jeito de convidar o Ramiro, através de um colega de orkut, o argentino Juan Trasmonte. Juan me deu um mail para falar diretamente com Ramiro e aí começamos a conversar a respeito da possibilidade de ele vir como convidado especial desse show. Conversa tranquila, discutimos cachê e tal. Ele aceitou prontamente "o que eu podia pagar", como disse a ele. Aí, ele me fez um pedido tão singelo que ali vi que era uma pessoa simples e "normal". Ele me disse: déa, não se esqueça que meu nome é Ramiro Musotto, com dois tês e não com dois esses, como a imprensa costuma grafar.

Fomos buscá-lo no aeroporto, eu e Wilson Dias, e quando aquele homem de porte atlético apareceu na porta da sala de desembarque, sorrindo, pensei: uai, acho que esse Ramiro Musotto é mesmo uma pessoa simples e "normal". Aí, passamos o som, e quando ele viu que eu não tinha produtor, que fazia todas as coisas, ele me chamou, me abraçou, beijou minha testa e me disse, antes de eu entrar no palco, "vai que eu estou aqui com você para o que der e vier...".

Achei de um respeito, de uma delicadeza... Coisa de mestre. Coisa de gente que sabia comungar, compartilhar... Coisa de gente que já andou muito no Grande Caminho... Nunca me esqueci desse gesto.

Portanto, agora, escrevendo esse texto, estou emocionada de ter convivido, mesmo que por breve tempo, com Ramirito...

Que ele descanse na pausa do som...