quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"Meninos, eu vi!"

Araras são pássaros que não passam desapercebidos. Além de exóticos, fazem uma algazarra capaz de chamar a nossa atenção de maneira completa e definitiva! O Brasil desfila grande, alegre e colorido pelos ares toda vez que levantamos a vista para ver as tais araras voando nos céus do sertão desse país ainda tão pungentemente rural.

Lá no Vale do Jequitinhonha vivem Araras Grandes que também são logo percebidas. Fazem sucesso dentro e fora do lugar. Fazem festa por onde passam. Cantam, declamam e encenam o Brasil brasileiro, genuinamente brasileiro... Encenam, cantam e declamam uma aldeia. Uma das mais bonitas do tal Brasil brasileiro. Depósito inesgotável do combustível que mantém o mundo de pé: a alegria.

Elas são o Coral Araras Grandes, de Araçuaí, cidade situada no Médio Jequitinhonha (e muitas vezes considerada a capital cultural da região). Quando essas araras se juntam em bando numa espécie de concerto, ninguém escapa! É uma experiência tão intensa que o corpo todo sente. Os olhos marejam, os suores afloram, o coração dispara numa taquicardia ora leve ora retumbante, as palmas ganham vida e quase batem sozinhas e o sorriso permanece na boca mesmo sem a gente querer...

Há muito tempo eu não era apanhada por uma emoção tão forte e por um sentimento de pertencimento tão inequívoco! Eu estava ali na platéia me sentindo o máximo (bonita, significativa e brasileira) apenas por pertencer ao mesmo lugar que aquelas pessoas que cantavam, declamavam e encenavam uma aldeia chamada Vale do Jequitinhonha.

O palco da ação era o II Encontro Internacional de Culturas Populares Vozes de Mestres, que acontecia dentro do IV Festival de Inverno de Ouro Branco, e eu era uma simples e emocionada "batedora de palmas", apreciadora do que também é meu. Me senti gigante, poderosa, capaz de acabar com todos os males do mundo e fazer a humanidade acertar novamente o passo, voltando ao equilíbrio do prumo primeiro: SER a natureza!

De repente, a surpresa. Luciano Silveira a arara líder me chamou para subir ao palco e eu virei por alguns minutos uma garbosa arara também... Lá estava eu cantando a plenos pulmões (como se fosse a minha primeira vez) para mostrar, orgulhosa, que aquela também é minha aldeia e que aquele também é meu povo. Que grande honra!

Tudo isso, meninos, senti e vi no concerto daquelas grandes araras canoras que mostravam esplendorosas esse Brasil óbvio ainda tão desconhecido de nós mesmos!

Déa Trancoso
Cantora

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