segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vozes de Mestres - segunda mesa redonda!!!

Ei gente!

No segundo dia do seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?", que aconteceu dentro da programação do II ENCONTRO INTERNACIONAL VOZES DE MESTRES", no IV Festival de Inverno de Ouro Branco, tivemos na mesa as presenças dos mestres Orlando Roque, Pena Branca, Noca da Portela e Chico Canoeiro. Outro dia "de responsa!".

Mestre Orlando Roque é Zelador de Santo, dentro da linha de Umbanda, há mais de 60 anos. Há 35, num mesmo "Gongá". Muita disciplina e serenidade para estar à frente de um trabalho que exige, não poucas vezes, silêncio e renúncia. "Comecei o meu trabalho aos sete anos, a custo de muita dedicação. Quando eu era pequeno, não conseguia compreender muito bem. Mas, então, o tempo foi passando e o grande arquiteto do universo foi colocando as pessoas certas no meu caminho. Tive muitos mestres a quem eu devo gratidão de lá até aqui", revelou. Orlando chorou e brindou os presentes com momentos de grande delicadeza...

Já Pena Branca, nos contou o início de sua trajetória com xavantinho. Muita água rolou debaixo da ponte na vida dos dois. Pena é uma figura calma, de fala pausada, mansa e muito envolvente. Consegue prender completamente a atenção da gente, enquanto vai desenrolando, tim tim por tim tim, as saborosas e interessantíssimas histórias de sua "vida de artista". É um grande avô. Parece personagem saído direto das memórias de Monteiro Lobato, outro mestre desse Brasil ainda tão sertanejo.

Noca da Portela é o mestre cheio do suingue da Velha Guarda da Portela, reconhecida escola de samba de outra mineira, a saudosa Clara Nunes. Noca nos diz com orgulho que foi com o dinheiro que lhe deu (e dá) a famosa canção "é preciso muito amor para suportar essa mulher..." (cantarola), gravada e regravada à exaustão no Brasil e até no exterior, que ele comprou apartamento e criou os filhos. Ele é um cara de 76 anos, "feliz e realizado". E parece que é duro na queda, pois fiquei sabendo que depois do show ainda foi curtir a noite de Ouro Branco com a galera. Isso depois de ter viajado, participado de uma mesa redonda, realizado um show e distribuído alegria e sorrisos da mais genuína realeza do samba brasileiro.

Já de Chico Canoeiro, esse mestre lá do Vale do Jequitinhonha, um dos últimos cantadores de Beira-Mar do Brasil, tenho a registrar apenas a sua alegria em estar numa mesa com aquelas pessoas. Em certa altura da conversa, ele nos presenteou com uma pérola, que, com certeza, fez Guimarães Rosa, o Grande Sertanejo, sorrir lá de onde ele mora: "Se até as pedras se encontram que dirá as pessoas!".

Eu fiquei muito alegre e indescritivelmente emocionada em participar de um projeto como esse. Imagina, coordenar duas mesas com esse desenho! Meu Deus!!! Que grande presente! Saí dessa breve experiência mais bonita, lembrando muito do meu mestre João do Lino Mar, o capitão dos Catopês de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, lá de Bocaiúva, Alto Jequitinhonha. Ele me dizia: "Minha filha, nunca se esqueça que a vida é trabalhar, cantar, brincar e rezar!". E ali, naquele singelo gesto de coordenar uma conversa, eu trabalhei, cantei, brinquei e rezei...

Viva as vozes dos mestres de agora e sempre...

VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Déa Trancoso a serviço do Vozes de Mestres em Ouro Branco . Julho/2009

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