quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

outro poema para 2010, agora da grande cecília...

"às vezes abro a janela e encontro um jasmineiro em flor.
outras vezes encontro nuvens espessas.
avisto crianças que vão pra escola.
pardais que pulam pelo muro.
gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com os pardais.
borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
às vezes, um galo canta.
às vezes, um avião passa.
tudo está certo, no seu lugar, cumprindo seu destino.
e eu me sinto completamente feliz.
mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros, que só existem diante de minhas janelas, e, outros, finalmente,
que é preciso aprender a olhar para poder vê-las assim..."

cecília meireles

domingo, 27 de dezembro de 2009

POEMA PARA 2010...

No tempo

Tempo, rei soberano das coisas

Tempo, pai que oferece a guarida
Tempo de ser paciência
Tempo de ter muita calma com a vida

Tempo para os pequenos milagres
Tempo de desfazer os quebrantos
Tempo para secar o seu pranto
Tempo de ter mais prazer na viagem

Tudo, tudo está dentro do tempo
Francisco, João, Serginho e Maria
Dentro do tempo pode ter tristeza
Mas no tempo ainda tem muita alegria

A terra está dentro do tempo
Ah! O mar também está lá dentro
Quem colore suas paisagens?
Todo o azul do céu e o vento

O tempo é seu todo dia
Tem a hora certa pra se catar a poesia
Porque na sala do tempo visita a tempestade
Mas lá no fundo ainda mora a calmaria

O mundo está dentro do tempo
A vida roda e gira lá dentro
E também eu, você, todos nós
E ainda o amor e o perfume da flor...

déa trancoso

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

OUTROS OLHOS MAREJAM...

Vejam neste link que outros olhos marejam pela Música "de" Egberto Gismonti... Aqui homenageando o grande amigo dele, outro grandessíssimo músico, o cubano Leo Brouwer...

domingo, 13 de dezembro de 2009

MULHERES QUE DIZEM SOM

Nome: Jane Duboc
País de Origem: Brasil
O que faz: Canta! Sublimemente!!!


Hoje foi uma tarde de escutar Egberto Gismonti. Ouvi de novo, de novo, e novamente, muitas músicas já preferidas. Ouvi no meu som o disco novo, "Saudações", que ganhei de presente recentemente (e vou ouvir muitas vezes antes de conseguir falar algo) e revi no "amigo domingueiro" you tube programas que a TV Cultura de São Paulo e a extinta TV Manchete fizeram com ele há um tempo.

Quanto mais escuto a Música "de" Egberto Gismonti, mais me encontro nela. Ela vai nutrindo, assim como água, todos os meus lugares. Vai passeando dentro de mim e eu floresço... Vai ver que é o mesmo sentimento que ele tem pelo Villa-Lobos, quando diz que já toca e "sente" a Música "de" Villa como sendo dele também. Vai ver que, no fundo, e na verdade verdadeira mesmo, é o Brasil que nos amarra num mesmo laço de fita bem dado: colorido, alegre e forte!

Aí, lá pelas tantas, quando já ia encerrando minhas andanças, dei mais um clic e quase morri... Lá estava um suave anjo que ria e cantava. Jane Duboc valseava "Ruth", com ele ao piano. Meus Deus, pensei, vou me desintegrar devagarinho no ar... Fechei os olhos e me deixei conduzir... Ai, minha Nossa Senhora do Rosário, que coisa mais linda! Embalada, subi aos céus e me sentei à direita de Deus-Pai, como reza a oração...

A voz de Jane Duboc é uma reverência à Ruth, a composição, ao piano de Gismonti, à Música, aos meus ouvidos, ao meu coração... Suspirei várias vezes e tive que pelo menos deixar sair meu encantamento através deste post no blogue.

Eu ouvi Jane Duboc pela primeira vez na minha vida cantando Nelson Cavaquinho: "tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor...". O Sérgio Santos, com quem eu tive a honra de fazer meu primeiro show, me disse: "essa é uma das maiores cantoras do Brasil". De fato... Ela tem uma elegância, uma suavidade... Parece comungar com Egberto Gismonti a reverência ao que não se pode tocar; ao que não se vê... Que prazer ir dormir com essa memória no corpo e no espírito!!!

Gratíssima a Dona Música pelas pétalas de rosas que perfumam e amaciam o meu caminho...
Gratíssima a Egberto e Jane...

EM TEMPO:
Jane Duboc lançou em 2008 pela Biscoito Fino o CD "Canção da Espera - Jane Duboc canta Egberto Gismonti". Lindo!

Crítica show Déa e Egberto em Natal/RN

Minha gente, leiam o que o jornalista Lívio Oliveira escreveu no Diário de Natal a respeito de Déa Trancoso e Egberto Gismonti... É mais que uma crítica...

sábado, 12 de dezembro de 2009

MULHERES QUE DIZEM SOM

Nome: Silvia Iriondo
País de Origem: Argentina
O que faz: Canta... Muito...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Música de Minas...

meus amigos, vejam que links lindos:
é a música de minas no ar!!! cliquem e ouçam!!!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Meus olhos marejam...


Eu e TUM TUM TUM abrimos, dentro do projeto Vozes de Mestres (Festival Internacional de Cultura Popular, que em 2009 foi um dos convidados do Centro Cultural do Banco do Brasil - o CCBB Itinerante, percorrendo nove cidades), o show de Egberto Gismonti, no Teatro Alberto Maranhão, em Natal/RN.

Só dessa experiência eu poderia escrever horas sem parar. Começo confessando um bocado de maravilhas que a convivência mais amiúde com Gismonti vem produzindo na minha vida, desde que o conheci pessoalmente há pouco mais de dois anos. Conhecer Egberto foi reconhecer o Brasil que pulsa sem parar dentro de mim e aceitar definitivamente que a única estrada capaz de me levar à Dona Música é a REVERÊNCIA; em todos os níveis.

Ele, vindo do Carmo, uma pintura incrustrada ali na geografia fluminense, com longa estrada de dedicação à Música e ao Brasil. Eu, vinda do Vale do Jequitinhonha, esse lugar onde a vida é pura Travessia, localizado no norte/nordeste do sertão mineiro, também com o meu grau de dedicação ao Brasil e à Música.

Ele vindo de uma família de músicos. O avô Antônio... O "mais grande e espichado" de todos, o tio Edgard... Eu, de uma família de ouvintes de rádio, de um violonista amador, amante de Nelson Gonçalves e de toda a velha guarda do samba brasileiro (meu pai é um quase baiano com o coração ligado no que acontecia musicalmente no Rio de Janeiro, que ainda não conheceu).

No Carmo tinha (e ainda tem?) coreto com direito a ensaios abertos de banda de música na época de tio Edgard. O Jequitinhonha tem (e tinha) congado, folia de reis, caboclinhos, catimbós, tum, tum, tum... Não são dois brasis raros. O-Brasil-é-isso-o-tempo-todo-em-todos-os-lugares. Como diz o próprio Gismonti, "o Brasil é de lascar!".

Para completar o ciclo de amizade à Música, os filhos de Egberto, Bianca e Alexandre, são músicos. Ela, Bianca Gismonti, é pianista. Ele, Alexandre Gismonti, violonista. É um gráfico bonito: vô Antônio, tio Edgard, Egberto, Alexandre e Bianca. E Gismonti no meio desse desenho. É uma posição para lá de muito privilegiada... A de veículo poderoso que recebe e deixa passar...

Pois sim... Continuemos. Eu vi Egberto Gismonti ao vivo apenas duas vezes. Uma em São Paulo, na Virada Cultural 2008, e, agora, essa, no Vozes de Mestres 2009. Ao show de São Paulo fomos em turma. Ele me disse "vocês vão ver um homem e um piano...". Quando soou o primeiro acorde da mão do homem no piano, eu literalmente "entrei" em transe.

A Música "de" Egberto Gismonti não embalou sempre a minha vida. Eu ouvi pouco Gismonti na minha formação musical. Mas desde que passei a ser "ouvinte-voraz", me reconheço inequivocamente nela. Desde que ele me conta as histórias de tio Edgard e vô Antônio, acho que também sou neta e sobrinha destes dois brasileiros; músicos praticamente desconhecidos do Brasil.

O que eu sinto é que a música "de" Gismonti agrega, inclui, estica a possibilidade, amplia o sentimento, cria a fricção necessária ao êxtase completo... Não, não é exagero de fã. Perguntei à Dulce Bressane, sua amiga de longa data, e parceira na Carmo Discos, que o acompanhava no show em Natal, o que ela sentia. Ela me respondeu: "acompanho a carreira de Egberto Gismonti e ouço sua Música há 40 anos; nunca é igual; é sempre novidade para mim; é sempre surpreendente...".

Neste show em Natal, eu derreti... Minha sensação era a de que muitas vezes eu não estava em mim. Era uma dança de inconsciência e consciência... De déa e não-déa. Levitei e me embrenhei em ondas ora de alto frenesi ora de suavidade de nuvem...

Aí, depois dessa experiência "de segundo Gismonti ao vivo", meus olhos deram de marejar quando ouço suas músicas nos you tubes da vida. É como se diz lá no Jequi: "que meus óio mareja, mareja...". Estou, assim, ainda dentro de uma combustão misteriosa que foi produzida em Natal, Rio Grande do Norte do Brasil brasileiro de Mário de Andrade, de Villa-Lobos, de Naná Vasconcelos, que, hoje, encerra o projeto Vozes de Mestres, em Belém, estado do Pará do Brasil brasileiro.

Durante uma entrevista que a gente concedeu à Rádio Universitária daqui, perguntei ao Naná quais foram os mestres dele. Ele disse: "um deles foi Egberto Gismonti; Egberto é a continuação de Villa-Lobos; é um mestre completo; nosso encontro produz muita beleza!".

Fiquei emocionada de ver que meus olhos não marejam sozinhos... Marejam também os de Naná e os da cantora argentina Silvia Iriondo (a Carmo Discos já produziu um disco dela), como vocês podem conferir nesta foto acima (a própria Silvia enviou ao Gismonti, que me enviou), tirada durante um encontro dos dois na Argentina.

Marejam, ainda, os olhos dos músicos que me acompanharam no show em Natal. Todos me confessaram a alegria de tocar no mesmo espaço que o mestre. De Tabajara Belo (violão), André Siqueira (violão e viola caipira de 14 cordas) e Bruno Pimenta (flautas), que ouviram muito Gismonti, a Beth Leivas e Danuza Menezes (percussão e voz). Todos ainda estão encantados e marejados...

Marejam nossos olhos como devem marejar os de muitos outros... Vida longa a Egberto Gismonti que completa 62 anos no próximo dia 5 de dezembro para que ele continue se dedicando a Ele e Ela: ao Brasil e à Música!

Déa Trancoso

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"É a retirada, é a retirada... Ê meus camarada, ê meus camarada!"



"Eu não sou daqui também,
marinheiro...
mas venho de longe e ainda
do lado de trás da terra,
depois da missão cumprida...
vim só dar,
despedida..."
(Marcelo Camelo)

Se encantou noite passada mestre Gentil do Orocongo, lá de Florianópolis...
Daqui do lado de cá da terra, gratidão eterna do Vozes de Mestres pela presença e partilha de amor pelo Brasil...
Que ele descanse nos campos do senhor...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"...porque viestes do barro e ao barro voltarás..."



Aos 85 anos, vividos com a certeza na frente, Izabel Mendes da Cunha, a mestra maior do Vale do Jequitinhonha, vai recebendo o reconhecimento à arte que sai de "sua idéia" e ganha vida através de suas calejadas mãos. Capa da Revista O Globo, do dia 8 de novembro, a "mulher de barro", além de presentear os repórteres com as riquezas de sua trajetória e com as saborosas estórias do lugar, explicita e partilha sua sabedoria de vida e mestrança com o vigor e a precisão de um Rabindranath Tagore ou de um Gurdjieff.

"Tudo já aconteceu com a gente. A riqueza que eu tenho é com a graça de Deus, mas na pobreza já passei muita dificuldade. Pobre não, porque dizem que pobre é o demônio. Mas já passei falta das coisas, e remediava mesmo com a precisão. Você sabe como é que a gente remedeia com precisão? Quando você está com precisão de comprar uma coisa para comer ou vestir, ou um remédio, e não tem condições, aí puxa a calma, passa dois ou três dias precisando daquilo. Lá pelo terceiro dia você amanhece vivo e vai arranjar as coisas. Você não morreu, você remediou com precisão", ensina.

A artesania de Dona Izabel começou cedo e foi virando referência para gerações de artesãos do Jequitinhonha, lugar de grande diversidade cultural, reconhecida no Brasil e no exterior. Em 2004, recebeu o Prêmio Unesco de Artesanato para a América Latina e Caribe (ganhou o primeiro lugar com sua já antológica boneca amamentando) e, em 2005, a Ordem do Mérito Cultural, concedida pelo Governo Federal.

Agora, em 2009, fará a sua primeira exposição individual, que começa dia 7 de dezembro, em São Paulo (Galeria Estação, organizada por Germana Monte-Mór e Vilma Eid), junto com um documentário, de Hilton Lacerda, co-diretor de "Cartola", filmado em sua casa, em Santana do Araçuaí.

É também nome de prêmio: o "Prêmio Culturas Populares 2009 - Mestra Dona Izabel Mendes da Cunha - Cerâmicas", que oferece incentivos de R$10 mil a ela e a 195 selecionados.

"Isso ninguém nunca me ensinou. Tudo que sei saiu de minha idéia. É dom dado por Deus", costuma dizer.

Que se erga um brinde de vida longa a Izabel e a este lugar no mundo chamado Vale do Jequitinhonha!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mesa redonda no Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 - Natal

eu, Lira Marques, Frei Chico, professor Deífilo e Egberto Gismonti, em foto de Diana Gandra

A mesa em Natal foi de lascar! Fiquei muito alegre. Especialmente com a presença de Lira Marques, artesã, cantora e pesquisadora, nascida em Araçuaí, região média do Vale do Jequitinhonha, minha terra natal. Quando estava anunciando os nomes, me lembrei de uma canção que diz: "flor de lis, flor de lira, por que será que lira gira?", ouvida num dos meus históricos Festivales (Festa da Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha), nos idos da minha juventude.

Lira Marques é, junto com Frei Chico, umas das fundadoras do Coral Trovadores do Vale, pioneiro na pesquisa e no registro de cantigas da cultura popular do Vale do Jequitinhonha, região (de quase 90 cidades), situada ao norte/nordeste de Minas, em pleno sertão das geraes. O Trovadores foi estrada trilhada por muitos corais e artistas que até hoje nascem e atuam na região, no Brasil e no mundo...

"Eu cheguei em casa eufórica: mãe!, o padre está cantando na igreja as cantigas que a senhora canta aqui em casa!", disse Lira na época, feliz da vida. Lira Marques trabalha com cerâmica, desenhos e pedras coloridas. Faz especialmente seres oníricos que ela chama de "meus bichos do sertão". Começou cedo, utilizando a cera de abelha que o pai usava para fabricar sapatos, e, hoje, sua obra já ultrapassou as fronteiras do Vale do Jequitinhonha, ganhando o Brasil e até o exterior.

Já o missionário franciscano holandês, radicado no Brasil, Francisco Van der Poel, o Frei Chico, diz que a gente tem que começar do que o povo já tem. "Ao todo, foram mais de 15 mil folhas registradas com coisas do povo", comenta enfático. Ele está finalizando o "Abecedário da Religiosidade Popular - Vida e Religião dos Pobres no Brasil", de sua autoria, com 8.500 verbetes, que sintetiza as conexões que o povo estabelece com a fé.

O professor Deífilo Gurgel, maior folclorista vivo do Brasil, trouxe para a conversa um nome da maior importância para a história da identidade cultural brasileira: Mário de Andrade. "Poderíamos falar que Mário é a síntese, mas, para falar a verdade verdadeira mesmo, temos que dizer que Mário de Andrade é a própria cultura brasileira".

Professor Deífilo disse que o folclorista é acima de tudo um bom contador de causos. Contou para a platéia uma história de "dívida com o diabo", recorrente na cultura popular e muitíssimo engraçada, que é o motivo das risadas na foto acima. "A cultura popular é coisa muito séria. Ainda vou ver lá de cima, quando eu me encantar, a cultura popular sendo valorizada e estudada com afinco", arrematou.

"O que eu acho mais bonito é que o Vozes de Mestres vai andando pelo Brasil plantando sementes de amizade e reverência", confessou Egberto Gismonti. Gismonti avalia que a reverência precisa de educação. "Para pegar o gosto pelo Brasil e gostar de ser brasileiro é preciso pedagogia adequada desde os quatro anos de idade pelo menos. Para que a gente tenha o guardião que a gente quer e deseja, é necessário que a educação e a cultura sejam pensadas e executadas juntas e de fato", conclui.

Esse assunto, a cultura de mãos dadas com a educação e vice-versa, esteve presente em todas as mesas, desde Ouro Branco/MG, em julho desse ano, quando iniciamos as atividades do festival. É URGENTE fazer alguma coisa urgente! É ÓTIMO que a gente faça! O nosso fazer é o Vozes de Mestres!!! Essa é a nossa contribuição. Para 2010, podemos aprofundar (ainda mais) em nossas atividades os laços de amizade entre cultura e educação, com certeza... Afinal, eles são inquebrantáveis...


VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Déa Trancoso a serviço do Festival Internacional Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009, dia 11 de novembro de 2009, 19h, no Teatro Alberto Maranhão, em Natal/RN.

"O que eu acho mais bonito é que o Vozes de Mestres vai andando pelo Brasil plantando sementes de amizade e reverência!" (Egberto Gismonti, músico)

VOZES DE MESTRES: eu visto essa camisa!!!

sábado, 31 de outubro de 2009

Eu, Curitiba, Osmarina e Cinézio...






Eu, Osmarina, Cinézio e Curitiba, um caso de amor... Adorei a cidade!!! Esses novos amigos me levaram para dar um passeio pelos pontos turísticos, naquele ônibus sem teto, que é um barato... Muito bacana... Duas horas e meia de belezas, verduras, culturas, povos, gentes, histórias e artes curitibanas... Depois, fomos tomar um Irish Coffee (café expresso com uísque, ave maria, é irado!!!) e ver Elba Ramalho e Meninas de Sinhá no Guaírão!!! Tudo de Bom... I'll be back!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Eu continuo feliz e triste...

... se encantou hoje o fotógrafo , artista plástico e linda pessoa, mestre Fernando Fiuza. Conheci Fiuza através da Malluh Praxedes, quando ela trabalhava no BDMG e me convidou para o projeto Cantoras Daqui, que é fabuloso...
Fiuza era o fotógrafo oficial do projeto e me retratou de uma maneira tão especial. A Déa Trancoso das lentes do Fiuza é misteriosa, meio bruxa, de imensa sensualidade brejeira e sertaneja; bonita mesmo...
Ele me fotografou na casa dele, ali na Serra, em Belo Horizonte, em 2007...


Ao mesmo tempo, neste clic acima, ele me colocou com oito anos de idade. Todo mundo que viu essa foto me dizia: - "nossa, Déa, o Fiuza captou sua alma...".

Que ele descanse "nos campos do senhor...".

domingo, 25 de outubro de 2009

"EU ACHO QUE ESTOU FELIZ E TRISTE..."

Toda vez que um mestre se encanta, há no ar um cheiro de tristeza e alegria. Para muitos, pode parecer um paradoxo. No entanto, para quem já atravessou "o portal" é plenamente compreensível. Diz uma canção de kleber Albuquerque: "eu acho que estou feliz e triste, tudo que eu tenho cabe na minha mão, e eu te dou de coração, e eu te dou de coração... eu não preciso de nada, o mundo é minha casa, o céu é minha camisa, estrelas vestem meus pés... eu não preciso de nada, estrelas vestem meus pés...".

Toda vez que o criador chama de volta um mestre ficamos felizes e tristes. A tristeza é sentida pelo corpo material que acredita apenas no bocado palpável da existência. A felicidade é celebrada pela parte extemporânea, divina, sagrada, aquela consciência que enxerga além dos muros da "realidade". Este "algo" que chamamos de alma, de espírito, e de tantas outras coisas, exulta porque mais um SER viaja de volta à casa do Pai.

A história do planeta está intimamente ligada à sabedoria de seus povos antigos. À devoção daqueles que se curvam e se deitam no colo terra, a verdadeira mãe. É assim aqui no Brasil, é assim na África, ainda é assim com os aborígenes na Áustrália. Em todos os lugares, eles estão lá para dizer como foi, como é; nos legando a matéria-prima que nos faz ser o que somos: a memória...

A memória de um tempo que não foi nosso e que legitima e dá sentido a este que é o nosso tempo. A história do planeta é feita por aqueles que vestem os pés de estrelas, cuja roupa é feita de céu, que trazem nas mãos tudo que precisam e que, no último suspiro, devolvem, de coração, a quem é de direito...

Disse-me Geovana Jardim que as últimas palavras de mestre Nelson Jacó, um desses antigos filhos da terra, que se encantou essa semana, foram: "eu estou indo, meu Deus, eu estou indo...". Belíssimas palavras para um último suspiro! "Eu estou indo, meu Deus, eu estou indo...", bem que poderia soar como "eu acho que estou feliz e triste, tudo que eu tenho cabe na minha mão, e eu te dou de coração, e eu te dou de coração... eu não preciso de nada, o mundo FOI minha casa, o céu É minha camisa, estrelas VESTEM meus pés... EU NÃO PRECISO DE NADA, ESTRELAS VESTEM MEUS PÉS...".

Cada vez que o Criador chama de volta um mestre que tem os pés vestidos de estrelas, o céu fica mais iluminado. Cada passo que este SER ENCANTADO dá neste céu, uma trilha brilhante aparece para que a nossa saudade do futuro tenha abrigo, para que os homens não se esqueçam de lembrar, para que os lembrados continuem caminhando...

VIVA A MEMÓRIA DO SER ENCANTADO, DE CODINOME MESTRE NELSON JACÓ, QUE CAPINANDO, CANTANDO, TOCANDO VIOLA E DANÇANDO, DALI DO SEU CANTINHO CHAMADO JEQUITIBÁ, SERTÃO DO SERTÃO MINEIRO, DEIXOU UM RASTRO DE LUZ NA HISTÓRIA DA MÃE TERRA...

Déa Trancoso

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Projeto "Caminhos do Jequitinhonha"

CRÍTICA LIVRO

“A grande dor do homem, que começa na infância e prossegue até a morte, é que olhar e comer são duas operações diferentes.”

Simone Weil

Quando menino, levado por pai e mãe, freqüentava a igreja. Da atmosfera, toda a minha atenção. Do rito, quase nada, mas, deste quase, uma só frase me dizia: “Ele está no meio de nós”. A frase era senha de despedida, logo toda a gente se retirava, eu me lembro do silêncio que nos acompanhava até a saída, um silêncio que eu não sei até hoje se era de fora, se de dentro. Só sei que dentro de mim eu levava a frase, que comigo ficava, só ouvidos, mas inquieta, sentida sem sentido, o som desencarnado ainda.

Da frase, que guardo até hoje, me recordei ao deitar os olhos na beleza toda de livro que é o “Estórias de Luz”, de Marcelo Oliveira. O nome é justo e honesto e cumpre o que promete. Pois o fotógrafo grava em luz o que os olhos vêem e o coração sente. Paisagens, coisas e gente, gente, coisas e paisagens são presenças emprenhadas de substância. Marcelo ilumina estórias em que tudo se narra por um olhar que traduz contato em encontro, pois é olhar permeado pelo afeto e decantado pelo tempo: tempo real e subjetivo de vivência e convivência do fotógrafo e do ser humano com as paisagens, as coisas e as gentes do Vale do Jequitinhonha, nas Minas Gerais.

O olhar ligeiro não considera, não guarda, não apreende de cor, não se põe “entre”. Daí a beleza própria às imagens que não foram simplesmente [re]colhidas, mas pacientemente plantadas e [a]colhidas. Elas nascem de um “estar entre”, que só a fotografia pode proporcionar, pois o olho do fotógrafo é corpo desencarnado que, para ser preciso, precisa encarnar no que vê.

Para esse olho que simultaneamente olha de fora e vê de dentro “a vida não é só isso que se vê / é um pouco mais...”. Incorporar este “a mais” à imagem é desafio ético e poético: o vão que separa o olho do mundo não pode, nem deve, ser transposto: sua profundidade exige respeito e suas profundezas, consideração. Na plenitude e abertura à este vazio, o olho que fotografa deve conscientemente se instalar. Habitando este “não lugar”, tudo que separa torna-se caminho. E o caminho, assim como o vazio, está no meio de nós.

Raul Motta
Professor de artes/Rio de Janeiro

NOTA - O livro "Estórias de Luz - narrativa fotográfica do Vale do Jequitinhonha", do fotógrafo-documentarista Marcelo Oliveira, é fruto do projeto "Caminhos do Jequitinhonha", vencedor do Programa BNB de Cultura 2006 (área Artes Visuais - Fotografia), patrocinado pelo Banco do Nordeste. O livro tem o patrocínio também da Vivo e da Cemig.

A exposição "Caminhos do Jequitinhonha" passou por várias cidades do Vale do Jequitinhonha (Diamantina, Itamarandiba, Minas Novas, Bocaiúva, Capelinha, Araçuaí, Capelinha, Salinas, Almenara, Rubim, Serro, Jequitinhonha, Chapada do Norte, Carbonita, Jacinto e Itinga). Foi convidada para integrar a programação do projeto "Vozes de Mestres"/CCBB Itinerante, com patrocínio do Banco do Brasil, em seis cidades brasileiras (São Luis do Maranhão, Joinville, Florianópolis, Curitiba, Natal e Belém), e para o projeto "Conexão Vivo", passando por quatro cidades mineiras (Governador Valadares, Montes Claros, Resende Costa e Belo Horizonte).

O lançamento do livro acontece em Belo Horizonte, dia 5 e dezembro, na Status Livraria Café Cultura, 11h, com a presença do Coral Araras Grandes, de Araçuaí.

domingo, 18 de outubro de 2009

MULHERES QUE DIZEM SOM

OUMOU SANGARÉ
País de origem: Mali
O que faz: CANTA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! MUITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Clique aqui e vá à página dela na net.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Argentina de luto por três dias pela morte de Mercedes Sosa...

A Mercedes Sosa era da mesma terra do grande Atahualpa Yupanqui, o maior mestre de cultura popular daquele país, que, para mim, tinha a voz do vento... Mercedes gravou um disco apenas interpretando Yupanqui, imperdível!!!

Para dar um viva! à memória dos dois, ouça "Duerme Negrito", canção tradiconal latino-americana, recolhida, por Atahualpa, na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Atenção para a interpretação de Atahualpa: as divisões, os silêncios, a emissão ora suave ora robusta, o sopro na nota... De fato, parece o vento que canta:



segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ondéqué minino?

Clique aqui e veja exercício de polifonia com a cancão "Ondé Qué", de Sérgio Pererê, realizada com os participantes da oficina Corpo e Voz, em Joinville.
PROJETO VOZES DE MESTRES/CCBB ITINERANTE 2009

Vídeo Diana Gandra

CORPO E VOZ EM FLORIANÓPOLIS!!!








Corpo e Voz em Florianópolis... Momentos sublimes...
PROJETO VOZES DE MESTRES/CCBB ITINERNTE 2009

FOTOS DIANA GANDRA

CORPO E VOZ EM JOINVILLE!!!






Corpo e Voz em Joinville... Outros momentos sublimes...
PROJETO VOZES DE MESTRES/CCBB ITINERANTE 2009

FOTOS DIANA GANDRA

domingo, 4 de outubro de 2009

Mesa redonda no Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 - Florianópolis





A mesa redonda em Florianópolis nos trouxe as presenças dos mestres Gentil do Orocongo e Getúlio Manoel, e, novamente, para a nossa alegria, do professor José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília.

Mestre Gentil do Orocongo tem 64 anos e se apaixonou (palavras dele) pelo Orocongo aos nove, quando uma família de Cabo Verde chegou com o instrumento em Florianópolis. Ele é o único tocador, cantador e luthier de Orocongo América Latina que está vivo.

O Orocongo é um instrumento cujo som lembra o da Rabeca. É feito de uma cabaça grande, serrada ao meio, com um braço que possui apenas uma corda. À primeira vista, parece muito primitivo. Mas essa primeira conclusão não resiste a um segundo olhar, quando prestamos atenção à técnica que é empregada para tocá-lo. Quando comecei a prestar atenção em como os dedos de mestre Gentil passeavam pela corda, sem tocar o braço, percebi a delicadeza e a sofisticação que tinha de ser empreendida para obter melodias e harmonias satisfatórias.

"Naquela época, era porta com porta. A gente tinha vizinhos de verdade. Quando vi o Orocongo pela primeira vez, sendo tocado pela família de Cabo Verde, disse ao meu pai: eu quero um desse! Ele me olhou espantado: desse qual, menino?", lembra maroto.

"Aí, comecei a riscar o tal Orocongo lá de minha casa e o que que tocava, da família de Cabo Verde, riscava de lá da casa dele também. Nós morávamos porta com porta. Quando vi, eu já estava tocando nos cassinos do Rio Grande do Sul. Era meu distraimento. Quando, mais tarde, dei por mim, já não me via mais sem o Orocongo. Ele já era minha vida e eu já tinha amor por ele... Daí, para começar a fazer o Orocongo, foi um passo", diz emocionado.

"Hoje, toco e faço o instrumento, ensinando os que querem aprender o ofício. Ando viajando muito pelo Brasil. Recentemente, participei de uma turnê pelo SESC. Foi muito bom poder mostrar o Orocongo fora de Florianópolis. Quando cheguei em Salvador, os baianos disseram: como é possível que a gente não conheça esse instrumento, se todos os instrumentos da cultura africana vieram parar na Bahia? Eu respondi: pois é, esse aqui foi parar lá em Florianópolis para a minha alegria", conta.

Mestre Gentil alerta que é preciso não deixar a cultura popular morrer na casca. "O que as crianças têm hoje?", pergunta. E ele mesmo responde: "A morte. E nem ela é mais novidade, morre-se das maneiras mais banais. Todo dia está no jornal. Morre-se por qualquer coisa. Ter progresso não resolve nada se não tiver ninguém para viver esse progresso. Quem não tem memória, não tem nenhum futuro!", diz.

"Hoje em dia, nem o ovo tem mais gosto de nada, gente! Eu vivi num tempo bom, muito bom mesmo. Quem viu, viu. Quem não viu precisa pelo menos de alguém que possa contar como foi. Essa é a nossa missão", conclui enfático.

Já mestre Getúlio Manoel tem 58 anos e é pescador, músico e escritor. Desenvolve trabalho social com a comunidade de pescadores do Campeche, ao sul da ilha. Ensina a arte de preparar redes e tarrafas, coordena o projeto "Música no Rancho da Canoa" e contribuiu para a criação do projeto "Pescando Letras", do Governo Federal, que já alfabetizou mais de 500 pescadores nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Faz parte também da história de mestre Getúlio Manoel uma coisa bastante interessante e curiosa. Ele é filho de "seu" Deca, histórico morador do Campeche, e sempre ouviu, desde criança, os relatos de seu pai sobre a passagem dos franceses pela ilha, especialmente de um tal de "Zé Perri", que não é ninguém mais, ninguém menos que Saint-Exupéry.

Seu pai, Deca, foi, sim, amigo do mítico criador do pequeno príncipe. Ele conta as saborosas histórias dessa amizade no livro "Deca e Zé Perri", lançado de maneira independente e já na segunda edição. Provavelmente, as histórias da aviação ligadas à sua própria história, à história de seu pai e às histórias do lugar onde nasceu, tenham influenciado sua ida para a Aeronáutica, na qual serviu como músico durante 20 anos.

Hoje mestre Getúlio Manoel divide seu tempo entre a pesca artesanal (principalmente da tainha) e o resgate da memória histórica do Campeche, além da escrita e da música.

"Acredito que o amor só significa alguma coisa quando é compartilhado", diz relembrando "Zé Perri", como ele agora também chama Saint-Exupéry. "Aprendi a fazer rede aos três anos. Hoje, ensino aos jovens o que sei. Passo para a frente. O aspecto social no Brasil ainda está muito doente. Nós ainda sentimos falta da mão amiga do governo local. Temos várias coisas ligadas à cultura popular dos anos 40 e 50 que estão esquecidas. Seria interessante que isso fosse para a sala de aula. É na educação que o povo se fortalece", diz veemente.

"Houve um lampejo no Brasil e agora a gente já sabe e aceita que existe música de negro também no Sul. Mas ainda há uma grande distância entre o esforço que a sociedade civil faz e a confiança que o governo deposita. E a gente só respeita o que a gente conhece profundamente. É nisso que se deve investir. Nas oportunidades de gerar conhecimento da história do Brasil para os brasileiros. Nem que seja para poucos interessados como estes que estão aqui a nos ouvir", opina.

"Lá no Campeche, tem uma porção de mãos estendidas, querendo repassar o conhecimento da cultura da pesca, por exemplo. Num país com uma população mais cidadã e mais esclarecida, isso prontamente seria aproveitado tanto pela sociedade civil quanto pelos governos. Mas, no Brasil, a coisa ainda é muito lenta. Ainda está restrita aos abnegados que se põem a resgatar a coisa feito heróis", desabafa.

O Vozes de Mestres vem cumprindo sua vocação que é dar voz aos mestres. Daqui, de ali, de todo Brasil. Nos diz, ao final, Mestre Gentil do Orocongo: "O progresso chegou, mas o terno de reis sumiu". São questões para a gente refletir e continuar caminhando na missão de, ao dar voz aos mestres, fazer surgir as estradas que possam ser formalmente pavimentadas com as belezas da cultura popular brasileira.

VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Déa Trancoso a serviço do Festival Internacional Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 . dia 22 de setembro de 2009, 19h, no Teatro Álvaro de Carvalho - Florianópolis/SC

FOTOS DIANA GANDRA

Mesa redonda no Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 - Joinville

Na mesa: eu, mestre João Schmitz, professor José Jorge e mestre Gildo Quitino

Oi minha gente!

Em Joinville tivemos em nossa mesa redonda as presenças dos mestres Gildo Quintino, do Boi de Mamão Entre Parentes, e João Schimitz, do Terno de Reis Estrela Guia, além do etnomusicólogo da UnB, Universidade de Brasília (Departamento de Antropologia), José Jorge de Carvalho.

Os dois mestres são de fato apaixonados pelo que fazem. Quando falam de suas experiências, os olhos brilham... Parecem duas crianças, cheias do vigor e da alegria próprios daqueles que vivem a vida para valer. Mestre Gildo Quintino nos trouxe inúmeras questões interessantes. "Tudo que a gente não repassa para a frente acaba no fundo do baú", foi sua primeira fala.

"Então, desse modo, resolvemos ativar essa brincadeira na nossa família mesmo. Primeiro, eu e meus irmãos, como forma de alegrar nossos pais. Agora, já temos os filhos e netos. Por isso é que botamos o nome de "Entre Parentes". São 22 pessoas. Todas da família", diz.

"Lá no início, quando a gente resgatou o Boi de Mamão, a gente pensou: vamos fazer a brincadeira sim. A gente sabe fazer o boi, sabe cantar e sabe tocar. Atualmente, nós já estamos lincados com a educação. Temos projetos com algumas escolas para passar para frente a história do Boi de Mamão. E isso é um desafio e dos bons. Estamos na estrada também; viajando e mostrando o nosso boizinho", diz sorrindo.

"Eu gosto do que faço!", afirma categoricamente. "Eu olho para uma pessoa, tiro verso, faço desafio. Eu tenho esse dom", revela. "Eu ensino a criançada a fazer o boi. Tenho uma oficina de construção de Boi de Mamão. E sou perfeccionista. Quando não fica bom, desmancho e faço outro. Para isso não precisei de estudo. Quando alguém me pergunta se sou letrado respondo que sei o suficiente para ninguém me lograr", continua.

"Para brincar o boi não tem idade. É de 2 a 100 anos! Meu netinho de um ano e meio fala poucas palavras e uma delas é boi! O outro, de sete anos, já faz quatro personagens", finaliza orgulhoso.

Mestre Gildo Quintino prepara para 2010 o Encontro Nacional de Folclore, em Joinville, e diz que o poder público tem que investir mais e pegar a vontade e o trabalho que os mestres da cultura popular têm e fazer florescer. Segundo ele, essa é a missão do Estado.

Mestre João Schmitz nos conta que se "apaixonou pela cultura popular" muito cedo. Seu Terno de Reis Estrela Guia trabalha com composições próprias e também é familiar. "Todos participam. Tocam e cantam. O que podemos fazer de melhor é deixar para as futuras gerações aquilo que nós acreditamos", avalia.

O que mais entristece João é que a surpresa que é uma das características mais marcantes da Folia de Reis está cada vez mais impossível. "Antigamente, a gente chegava sem avisar. Hoje, as família pedem para avisar por causa da violência", diz.

Desde os 14 anos, mestre João Schmitz está no Terno de Reis. Seu pai tocava Gaita de Ponto. Assim, vendo o pai, foi "pegando experiência". Em 1975, se dedicou a resgatar o Terno de Reis em Joinville. Hoje, existem mais de 20 grupos atuantes.

Para ele, a ligação com o sagrado é o mais bonito da cultura popular. "Desde a hora de compor, eu me recolho e invoco a ajuda do alto. As canções sempre trazem mensagens de paz, alegria, amizade. Aí falam do nascimento de Jesus, dos reis magos, da vida de Maria. Depois, agradece e se despede dos donos da casa", ensina.

Para o mestre João, garantir que todos os ternos tenham um tratamento igual nos palcos dos festivais que participa também é muito importante. "No palco, todo mundo é igual!", conta.

O professor José Jorge jogou luz em várias questões que passeiam em torno da cultura popular e ainda não têm respostas satisfatórias. "Quando participo de encontros como esse e escuto as falas dos mestres, tenho a impressão de viver em dois brasis bem distintos. Dois brasis que não conseguem se conciliar. Quando você viaja e está em momentos como este que estamos agora, você vê um Brasil, mas quando você liga a TV, é outro Brasil. Esse não está lá, assim como não está na universidade também. A não ser em pequenas doses, em programas bastante específicos e raros que existem na TV Educativa".

Para José Jorge, o maior desafio é aproximar esses dois mundos. "Encontrar projetos que a médio prazo unam os mestres, a universidade, a escola secundária", diz confiante. "Incluir os saberes, as artes e os ofícios da cultura popular é a nossa meta. Na Universidade de Brasília, que é a instituição onde atuo, estamos discutindo a criação de cursos livres de artes e ofícios, no quais os mestres da região centro-oeste serão os professores. Essa reflexão já está em fase bastante avançada", continua entusiasmado. segundo ele, é necessário que a gente gere uma consciência a respeito do assunto.

E essa é uma das missões do Vozes de Mestres. Gerar consciência, através de um tipo de encontro capaz de trazer novamente questões como essa à baila para que pelo menos elas sejam conversadas pelos que se interessam. Fazer que com esses encontros sirvam para que essas pessoas que se interessam se conheçam pessoalmente, reflitam e troquem experiências e informações das realidades fora de sua comunidade.

É preciso muita determinação, paciência e fé para tratar de assuntos que dão trabalho. Mas, quanto mais eu viajo pelo Vozes de Mestres Brasil afora, mais percebo e concluo que a cultura popular é remédio para a alma e está se transformando, ainda que lentissimamente, num eficiente remédio para nossas mesas. Gera riquezas e está, com certeza, entre os indicadores financeiros que faz o Brasil crescer...

VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Déa Trancoso a serviço do Festival Internacional Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 . dia 19 de setembro de 2009, 19h, no no Cau Hansen - Centro de Convenções Alfredo Salfer - Joinville/SC

FOTO DIANA GANDRA

sábado, 3 de outubro de 2009

Ramiro Musotto, por Juan trasmonte...



El mais grande del berimbau

El talentoso músico argentino, también productor y compositor, murió ayer en Brasil, a los 45 años, a pocos meses de haber sido diagnosticado de un cáncer de estómago.


Juan Trasmonte
12.09.2009

Tristeza não tem fim.
En los últimos años logró el merecido reconocimiento entre el público argentino, que lo extrañará.

Rondaban los fantasmas de Malvinas en Bahía Blanca. Ramiro Musotto estaba echado en la plaza con sus amigos, mirando las estrellas. Dijo que quería ir a Brasil a estudiar el berimbau de su admirado Naná Vasconcelos. Pero fue mucho más allá. Como dijo Zeca Baleiro, de la Bahía Blanca a la Bahía Negra.

Empezó a investigar la batería electrónica cuando nadie lo había hecho todavía en Brasil y fue uno de los diseñadores de esa percusión bahiana que explotó en las voces y los sudores de Daniela Mercury y Margareth Menezes. Laburando en estudios, en Salvador primero y en Río después, grabó, con y para todo el mundo, unos 200 discos, de Caetano Veloso a Marisa Monte, de Sérgio Mendes a Titãs.

Cuando Diego Frenkel, por ejemplo, fue a Río a grabar percusiones para La Portuaria esperaba llegar al estudio y encontrarse con una docena de negros recién bajados del morro. Se encontró a Ramiro. Él solo era la batucada.

Lo conocí en el bar Picote –que yo llamaba “mi oficina”–, en Río de Janeiro. Me miró desconfiado. Le hacía ruido que otro argento le ofreciera la posibilidad de que Sudaka, su primer CD solista que ya daba vueltas por Brasil y Estados Unidos, fuese editado en la Argentina que se le venía negando. Y al estilo argentino me dijo: “¿Cuánto me vas a cobrar?”. Nos convertimos en hermanos instantáneos.

Fue el empujón para regresar a Salvador y dedicarse de lleno a su propia música. Ramiro encontró completamente enchufado entre bits y cueros el cable invisible e inasible que une los sonidos ancestrales de África y América Latina. Tornó modernos a los indios xavantes y tradicional al octapad, aunque el berimbau, con la piedra en la mano y la calabaza en el vientre, siguió siendo su instrumento madre.

En 2005 formó en Francia la primera orquesta de berimbaus, arrancando sonidos alucinantes con instrumentos en diferentes afinaciones. Así andaba, llevando sus cañas y su Mac de Grenoble al carnaval de Salvador y de la ceremonia de los Panamericanos a la Buenos Aires que había dejado de ser misteriosa y ya tenía una corte de fans que bailaban atrás de su trío.

Lo que no se ve en los discos: vivió con la filosofía Vinicius del arte del encuentro, siempre juntando gente de origen variopinto. Y él, que como buen percusionista siempre andaba con exceso de equipaje, esta vez viajó muy leve. Y muy temprano.

* Matéria do publicada pelo jornal "Crítica de Buenos Aires/Culturas/Edición Impresa".

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AOS 45 ANOS, O GRANDE RAMIRO MUSOTTO SE ENCANTA...

FOTO MARCELO OLIVEIRA


Ontem, fazendo algumas pesquisas na net, me deparei com a notícia da morte do percussionista argentino, radicado no Brasil (em Salvador/BA), Ramiro Musotto. Gênio na sua escolha de fazer do som percussivo sua comunicação com o mundo, Ramirito, como era suavemente chamado pelos amigos que o conheciam mais de perto, deixa eterno legado.

O legado do percussionista que inovou, trazendo para o berimbau, que parecia ser seu grande amor, luzes, cores e tons que modificaram para sempre o jeito de ouvir o som deste instrumento. Disse certa vez em uma entrevista que ao ver Naná Vasconcelos tocar o berimbau, se apaixonou e nunca mais foi o mesmo. De fato, Naná, e depois Ramiro, deram à beriba um lugar de destaque na Música. O que antes era apenas um instrumento exótico de percussão, ganhou lindo e corajoso lugar no mundo da melodia e da harmonia.

O legado do ser humano bacana que ele foi. Tive a alegria de tocar com ele num show que fiz no Teatro da Biblioteca, em novembro de 2007. Aliás tive alegria dupla de juntar nesse mesmo concerto, Ramiro e Djalma Corrêa, outro grande percussionista! Fizemos algumas músicas do CD TUM TUM TUM, depois, ele fez um solo de berimbau tão impressionante, que, em certa altura, achei que tinha um pianista no palco, tamanha delicadeza de sons que ele conseguia daquele "irmão-instrumento", e finalizamos, eu, ele, Djalma Corrêa e Serginho Silva (outro percussionista interessantíssimo) fazendo "Berimbau", de Baden e Vinícius, numa grande ode à beriba.

Descobri o jeito de convidar o Ramiro, através de um colega de orkut, o argentino Juan Trasmonte. Juan me deu um mail para falar diretamente com Ramiro e aí começamos a conversar a respeito da possibilidade de ele vir como convidado especial desse show. Conversa tranquila, discutimos cachê e tal. Ele aceitou prontamente "o que eu podia pagar", como disse a ele. Aí, ele me fez um pedido tão singelo que ali vi que era uma pessoa simples e "normal". Ele me disse: déa, não se esqueça que meu nome é Ramiro Musotto, com dois tês e não com dois esses, como a imprensa costuma grafar.

Fomos buscá-lo no aeroporto, eu e Wilson Dias, e quando aquele homem de porte atlético apareceu na porta da sala de desembarque, sorrindo, pensei: uai, acho que esse Ramiro Musotto é mesmo uma pessoa simples e "normal". Aí, passamos o som, e quando ele viu que eu não tinha produtor, que fazia todas as coisas, ele me chamou, me abraçou, beijou minha testa e me disse, antes de eu entrar no palco, "vai que eu estou aqui com você para o que der e vier...".

Achei de um respeito, de uma delicadeza... Coisa de mestre. Coisa de gente que sabia comungar, compartilhar... Coisa de gente que já andou muito no Grande Caminho... Nunca me esqueci desse gesto.

Portanto, agora, escrevendo esse texto, estou emocionada de ter convivido, mesmo que por breve tempo, com Ramirito...

Que ele descanse na pausa do som...

domingo, 6 de setembro de 2009

Mesa redonda no Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 - São Luís do Maranhão



Eu, mais uma vez, me encantei na mesa redonda "Brasil; quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos?", pelo Festival Internacional Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009. Aqui, estamos em São Luís do Maranhão, desfrutando das presenças de Pai Euclides, Humberto de Maracanã, Pena Branca e Dércio Marques, que, a cada fala, a cada gesto, mostraram um Brasil que tem jeito e uma humanidade ainda possível, mesmo diante da aspereza que cerca os dias atuais.

Pai Euclides disse que para ele nós somos a natureza e a nossa missão no mundo é desenvolver o dom dado por Deus. "Cada um tem um dom. É um presente da natureza! É necessário aceitar e colocar em prática para que o mundo seja aquilo que queremos e sonhamos. Se todos, de fato, recebessem com consciência e firmeza o dom dado por Deus, a existência seria completa e o mundo talvez não estivesse passando por tamanhas turbulências", opinou.

Pai Euclides é babalorixá e diretor da Casa Fanti Ashanti, tradicional comunidade de São Luís do Maranhão, que trabalha há décadas para a preservação de manifestações culturais de matriz africana.

Foi uma alegria reencontrar Mestre Humberto de Maracanã. Dessa vez, enquanto ele contava algumas passagens da sua história de menino que enfrentou dura caminhada para chegar onde está hoje, fui percebendo como ele tem clareza de si mesmo, consciência absoluta de seu papel no mundo dos homens e, o que para mim é mais impresssionante, de sua missão no mundo de Deus.

Sua voz firme vai narrando cenas e transformando o drama em poesia e melodia, já que começou como compositor de samba. o samba do mingau é engraçadíssimo. Nele, Humberto narra com humor a falta de comida, uma triste companhia de muitos de seus dias, que ele rapidamente fez virar samba. Coisa de mestre...

Dércio Marques, dessa vez mais falante, nos disse que é preciso resguardar a criança dentro da gente. A saúde do mundo (e a nossa própria saúde dentro dele) depende da nossa capacidade de preservar a criança, a inocência, a pureza. "É necessário fazer a resistência, mesmo diante de tanta oferta de violência e maldade", desabafou.

Pena Branca nos traz a consciência de que o Brasil ainda é, graças a Deus, o sertão. É esse sertão, que insiste em continuar vivo, que segura a onda, que mantém a réstia de equilíbrio que nos resta.

Essa mesa em São Luís do Maranhão foi muito significativa, pois mostrou que, mesmo a despeito das distâncias continentais que nos separam, somos um povo que se assemelha na fé, na maneira como buscamos saídas para as questões que nos afligem. Mostrou que o povo antigo, os mestres, aqueles que já andaram no caminho continuam falando de Deus sem pudor...

VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Déa Trancoso a serviço do Festival Internacional Vozes de Mestres - CCBB Itinerante 2009 . dia 29 de agosto de 2009, 19h, no Centro de Criatividade Odylo Costa Filho, Praia Grande, São Luís do Maranhão

FOTOS DIANA GANDRA

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ele, o Guriatã!!!


A COROA AINDA EXISTE
O REI JANUÁRIO NÃO LEVOU
NÃO ESTÁ NO IGUAÍBA
NÃO ESTÁ NA MAIOBA
NÃO ESTÁ NA PINDOBA
NO RIBAMAR, PIOROU...
QUEM USA ELA É O GURIATÃ
ESTÁ NO MARACANÃ
QUE SÃO JOÃO ENTREGOU

(TOADA DE BOI, DE AUTORIA DO MESTRE HUMBERTO DE MARACANÃ)

Eu, de minha parte, das longas convivências com mestres de variadas escolas espirituais, ainda não tinha visto um com tamanha consciência e clareza de si mesmo, de seu papel no mundo de Deus e dos homens... Uma vida dura transformada em poesia, música, fé, trabalho e doação... É assim, segundo Goethe: "Deus dá aos seus escolhidos toda a tristeza do mundo e absolutamente também toda a alegria que existe no universo". É assim que "seu" Humberto de Maracanã existe! Doando ao mundo dos homens e de Deus o seu melhor. Mínguas transbordadas em abundância explícita!!! Sempre lá do Maracanã, em São Luís do Maranhão...
VIVA O BOI DE MARACANÃ!!!
VIVA SÃO JOÃO!!!
VIVA O MESTRE HUMBERTO E SUA HISTÓRIA TÃO BRASILEIRA!!!

FOTOS DIANA GANDRA

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Corpo e Voz em São Luis do Maranhão!!!








Minha gente, acabo de chegar de "San Luí do Mará", como diz Geraldinho Azevedo. Estava lá no Festival Internacional Vozes de Mestres, um dos patrocinados do CCBB Itinerante 2009. Que coisa bacana! Uma turma de lindas gentes; de profundas musicalidades... Trabalhamos, em primeiríssimo lugar, o medo do ridículo. Quando a gente perde o medo do ridículo, a gente canta e vive melhor. A gente olha ao redor e vê que tem um tanto de "outros". Não é a gente sozinho que constrói o mundo. É necessário tanta gente!!! São necessárias tantas flores para florir o jardim... Assim, a gente vai perdendo o medo do ridículo e a existência vai florescendo...

Foram três dias de pura emoção e suor. Polifonia, cantigas da cultura popular brasileira, especialmente do Vale do Jequitinhonha, minha terra natal. Percussão corporal, afinação, aquecimento, diafragma, equilíbrio, risos, silêncios, intenções, abraços e beijos...

Voltei muito feliz com a turma do Maranhão. Olha os depoimentos que recebi por e-mail, depois que cheguei em minha Minas Gerais:

"Oi Mestra Déa! Pode deixar que vou virar contato no Vozes de Mestres, tá? Quero te dizer que fazer sua oficina foi um desafio. Ainda sou uma pessoa muito resistente ao contato humano (na verdade, a me expor ao contato humano). A sua oficina foi o ponto de partida para o início de um processo de auto-conhecimento (uma busca interior mesmo), que, até então, estava relutante em começar. Resumindo em uma palavra, a sua oficina significou LIBERTAÇÃO para mim. Te agradeço e te desejo todas as bençãos de Cristo... Hoje e sempre. Beijos 1000...
Sandra Acioly"

"Muitas verdades foram enriquecidas e muitos valores, renovados. Da próxima vez tu não escapas, tens que lançar o TUM TUM TUM por aqui sim! Marapá! Façamos força juntos para que seja o mais breve...
Cuias de abraços pra ti!!!
Dicy Rocha"

"Oi, Déa! Experimentar sua companhia, ali, junto com todo mundo... Sua voz tão viva e tão cheia de luz trouxe uma energia muito especial para todos que vivenciaram a oficina e eu espero realmente que você não se demore. Volte logo! Vamos juntar esforços para que isso aconteça. Um cheiro grande!
Helyne Carvalho"

"Déaaaa, nós ficamos encantados com você. Tô ouvindo o TUM TUM TUM bem devagarinho. NA PAUSA... Degustando com calma todas as músicas. Por enquanto, as minhas preferidas são Beija-flor e Passarinho Pintadinho. Vamos manter contato para articular o seu retorno. Não sei se será possível pelo Laboratório de Mídias Livres, mas, se depender de mim, da Zina e da Luana (ela não esteve na oficina mas depois que ouviu o seu cd já é fã também), vai dar tudo certo.
Um beijo grande!!!
Danielle Moreira"

FOTOS DIANA GANDRA