segunda-feira, 17 de agosto de 2009

CRÍTICA DE ARIANO SUASSUNA AO FORRÓ ATUAL

Tem rapariga Aí? Se tem, levante a mão!'. A maioria, as moças, levanta a mão... Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são 'gaia', 'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

Para uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do Forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém os culpados desta 'esculhambação' não são exatamente as bandas, ou os empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde.

Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo...

Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é 'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

Ariano Suassuna

EU, DE MINHA PARTE CONCORDO COM ARIANO, UM DOS ÚLTIMOS MOICANOS DESSE PAÍS, EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU!
DÉA TRANCOSO

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"Meninos, eu vi!"

Araras são pássaros que não passam desapercebidos. Além de exóticos, fazem uma algazarra capaz de chamar a nossa atenção de maneira completa e definitiva! O Brasil desfila grande, alegre e colorido pelos ares toda vez que levantamos a vista para ver as tais araras voando nos céus do sertão desse país ainda tão pungentemente rural.

Lá no Vale do Jequitinhonha vivem Araras Grandes que também são logo percebidas. Fazem sucesso dentro e fora do lugar. Fazem festa por onde passam. Cantam, declamam e encenam o Brasil brasileiro, genuinamente brasileiro... Encenam, cantam e declamam uma aldeia. Uma das mais bonitas do tal Brasil brasileiro. Depósito inesgotável do combustível que mantém o mundo de pé: a alegria.

Elas são o Coral Araras Grandes, de Araçuaí, cidade situada no Médio Jequitinhonha (e muitas vezes considerada a capital cultural da região). Quando essas araras se juntam em bando numa espécie de concerto, ninguém escapa! É uma experiência tão intensa que o corpo todo sente. Os olhos marejam, os suores afloram, o coração dispara numa taquicardia ora leve ora retumbante, as palmas ganham vida e quase batem sozinhas e o sorriso permanece na boca mesmo sem a gente querer...

Há muito tempo eu não era apanhada por uma emoção tão forte e por um sentimento de pertencimento tão inequívoco! Eu estava ali na platéia me sentindo o máximo (bonita, significativa e brasileira) apenas por pertencer ao mesmo lugar que aquelas pessoas que cantavam, declamavam e encenavam uma aldeia chamada Vale do Jequitinhonha.

O palco da ação era o II Encontro Internacional de Culturas Populares Vozes de Mestres, que acontecia dentro do IV Festival de Inverno de Ouro Branco, e eu era uma simples e emocionada "batedora de palmas", apreciadora do que também é meu. Me senti gigante, poderosa, capaz de acabar com todos os males do mundo e fazer a humanidade acertar novamente o passo, voltando ao equilíbrio do prumo primeiro: SER a natureza!

De repente, a surpresa. Luciano Silveira a arara líder me chamou para subir ao palco e eu virei por alguns minutos uma garbosa arara também... Lá estava eu cantando a plenos pulmões (como se fosse a minha primeira vez) para mostrar, orgulhosa, que aquela também é minha aldeia e que aquele também é meu povo. Que grande honra!

Tudo isso, meninos, senti e vi no concerto daquelas grandes araras canoras que mostravam esplendorosas esse Brasil óbvio ainda tão desconhecido de nós mesmos!

Déa Trancoso
Cantora

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A RESPEITO DA H1N1, TAMBÉM CONHECIDA COMO GRIPE SUÍNA...

Influenza A subtipo H1N1 também conhecido como A(H1N1), é um subtipo de Influenzavirus A e a causa mais comum da influenza (gripe) em humanos. A letra H refere-se à proteína hemaglutinina e a letra N à proteína neuraminidase. Este subtipo deu origem, por mutação, a várias estirpes, incluindo a da gripe espanhola (atualmente extinta), estirpes moderadas de gripe humana, estirpes endémicas de gripe suína e várias estirpes encontradas em aves. Variantes de H1N1 de baixa patogenicidade existem em estado selvagem, causando cerca de metade de todas as infecções por gripe em 2006. Em Abril de 2009, um surto de H1N1 matou mais de 100 pessoas no México, e pensava-se existirem mais de 1500 indivíduos infectados em todo o mundo em 26 de Abril de 2009. O Centers for Disease Control and Prevention nos Estados Unidos avisou que era possível que este surto desse origem a uma pandemia. No balanço oficial da OMS divulgado no começo da manhã de 8 de maio de 2009, que não inclui o aumento de casos na América do Norte, Europa e América Latina, o número de contaminados era de 2384, com 42 mortes.
Vídeos esclarecedores:
A segunda onda da gripe suína
Países do hemisfério norte se preparam para as temperaturas mais baixas do outono e do inverno, que devem contribuir para o aumento no número de casos da nova doença.
Enquanto o verão no hemisfério norte se aproxima do fim, os países da América do Norte e da Europa começam a se preparar para o retorno da gripe suína. Diversos especialistas acreditam que o segundo ataque do vírus Influenza A (H1N1) será muito mais grave que o primeiro, que começou no México, já durante a primavera no norte. Autoridades internacionais de saúde afirmam que a queda das temperaturas nos próximos meses pode levar a um rápido aumento no número de casos, ao fechamento de escolas e locais de trabalho, e a perturbações em hospitais - o que já ocorreu em países do hemisfério sul, como Argentina e Nova Zelândia, além do Brasil, que enfrentaram a primeira onda de gripe suína durante o outono e o inverno. O retorno às aulas após as férias de verão também pode ser um agravante para o aumento no número de casos em países como EUA e Inglaterra. "O vírus ainda está por aí e está pronto para explodir", disse William Schaffner, especialista em gripe que aconselha funcionários federais de saúde nos EUA, ao jornal Washington Post. O presidente americano Barack Obama está reunido nesta semana com os governos mexicano e canadense e uma das pautas das conversas é a gripe suína. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 300 pessoas já morreram por conta do vírus A (H1N1) nos EUA, 142 no México, e 59 no Canadá. O governo americano já está fazendo recomendações do que os pais devem fazer se os filhos ficarem doentes, se as escolas e ambientes de trabalho forem fechados e como doutores devem tratar os pacientes. Especialistas esperam que as precauções minimizem a contaminação e os casos de morte. Além das 23 milhões de doses de Tamiflu que já estão disponíveis nos EUA, o governo americano enviou outras 11 milhões de doses para os estados, e também comprou mais 13 milhões para repor o estoque. As vacinas contra gripe suína não devem ficar prontas antes do meio de outubro.
Tamiflu:Oseltamivir (Tamiflu)
O Tamiflu é um medicamento que somente deve ser usado sob prescrição médica.
Mecanismo de ação do Tamiflu: O fosfato de oseltamivir é uma pró-droga do carboxilato de oseltamivir, um inibidor potente e seletivo das enzimas neuraminidase do vírus da gripe, que são glicoproteínas encontradas na superfície do vírion. A atividade da enzima viral, neuraminidase, é importante tanto para a entrada do vírus em células não infectadas quanto para a liberação de partículas virais formadas recentemente de células infectadas e a expansão posterior do vírus infeccioso no organismo. O carboxilato de oseltamivir inibe a neuraminidase do vírus da gripe de ambos os tipos: Influenza A e B. As concentrações inibitórias in vitro encontram-se na faixa nanomolar inferior. O carboxilato de oseltamivir também inibe a infecção e replicação in vitro do vírus da gripe e inibe a replicação e patogenicidade in vivo do mesmo. O carboxilato de oseltamivir reduz a proliferação de ambos os vírus da gripe A e B pela inibição da liberação de vírus infecciosos de células infectadas.
Indicações de Tamiflu Tamiflu cápsulas Tamiflu é indicado para o tratamento e para a profilaxia de gripe em adultos e crianças a partir de 8 anos de idade, ou com 40 kg ou mais de peso corporal, que sejam capazes de ingerir cápsulas. Tamiflu Pó para suspensão oral Tamiflu é indicado para o tratamento e para a profilaxia de gripe em crianças entre 1 e 12 anos de idade.
Contra-indicações de Tamiflu Hipersensibilidade ao fosfato de oseltamivir ou a qualquer componente do produto. Este medicamento é contra-indicado em crianças abaixo de 1 ano de idade.
Advertências sobre o uso de Tamiflu Não há evidência da eficácia de Tamiflu em qualquer tipo de doença causada por outros agentes que não os vírus causadores da gripe, Influenza A e B. Instruções especiais de dosagem para pacientes de grupos de risco: vide item 6, Posologia.
Alternativa: Anis Estrelado:
"O anis estrelado, amplamente cultivado na China, é o extrato-base (75%), da produção do comprimido Tamiflu, da Roche (empresa do antigo Secretário de Defesa dos EUA Donald Runsfield). Mas, como é um pouco difícil encontrar o anis estrelado aqui no Brasil, podemos usar o nosso anis mesmo – a erva-doce – pois esta erva possui as mesmas substâncias, ou seja, o mesmo princípio ativo do anis estrelado, e age como anti-inflamatória, sedativa da tosse, expectorante, digestiva, contra asma, diarréia, gases, cólicas, cãibras, náuseas, doenças da bexiga, gastrointestinais, etc... Seu efeito é rápido no organismo e baixa um pouco a pressão, devendo ser feito o chá c/apenas uma colher de café das sementes para cada 200ml de água, administrado uma a duas vzs dia, de preferência após uma refeição em q se tenha ingerido sal. Se vc está lendo, ajude a divulgar o uso da erva-doce como preventivo do H1N1, ou mesmo como remédio a ser tomado imediatamente após os 1ºs sintomas de gripe, pois seu princípio ativo poderá bloquear a reprodução do vírus e mesmo evitar seu maior contágio.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A respeito de respeito e honra!!!

Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.


"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

Uma criança que aprende o respeito e a honra dentro e casa e recebe o exemplo direto de seus pais. Depois, torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive o de respeitar o planeta onde vive...

COMECE AGORA!!!!!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vozes de Mestres - segunda mesa redonda!!!

Ei gente!

No segundo dia do seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?", que aconteceu dentro da programação do II ENCONTRO INTERNACIONAL VOZES DE MESTRES", no IV Festival de Inverno de Ouro Branco, tivemos na mesa as presenças dos mestres Orlando Roque, Pena Branca, Noca da Portela e Chico Canoeiro. Outro dia "de responsa!".

Mestre Orlando Roque é Zelador de Santo, dentro da linha de Umbanda, há mais de 60 anos. Há 35, num mesmo "Gongá". Muita disciplina e serenidade para estar à frente de um trabalho que exige, não poucas vezes, silêncio e renúncia. "Comecei o meu trabalho aos sete anos, a custo de muita dedicação. Quando eu era pequeno, não conseguia compreender muito bem. Mas, então, o tempo foi passando e o grande arquiteto do universo foi colocando as pessoas certas no meu caminho. Tive muitos mestres a quem eu devo gratidão de lá até aqui", revelou. Orlando chorou e brindou os presentes com momentos de grande delicadeza...

Já Pena Branca, nos contou o início de sua trajetória com xavantinho. Muita água rolou debaixo da ponte na vida dos dois. Pena é uma figura calma, de fala pausada, mansa e muito envolvente. Consegue prender completamente a atenção da gente, enquanto vai desenrolando, tim tim por tim tim, as saborosas e interessantíssimas histórias de sua "vida de artista". É um grande avô. Parece personagem saído direto das memórias de Monteiro Lobato, outro mestre desse Brasil ainda tão sertanejo.

Noca da Portela é o mestre cheio do suingue da Velha Guarda da Portela, reconhecida escola de samba de outra mineira, a saudosa Clara Nunes. Noca nos diz com orgulho que foi com o dinheiro que lhe deu (e dá) a famosa canção "é preciso muito amor para suportar essa mulher..." (cantarola), gravada e regravada à exaustão no Brasil e até no exterior, que ele comprou apartamento e criou os filhos. Ele é um cara de 76 anos, "feliz e realizado". E parece que é duro na queda, pois fiquei sabendo que depois do show ainda foi curtir a noite de Ouro Branco com a galera. Isso depois de ter viajado, participado de uma mesa redonda, realizado um show e distribuído alegria e sorrisos da mais genuína realeza do samba brasileiro.

Já de Chico Canoeiro, esse mestre lá do Vale do Jequitinhonha, um dos últimos cantadores de Beira-Mar do Brasil, tenho a registrar apenas a sua alegria em estar numa mesa com aquelas pessoas. Em certa altura da conversa, ele nos presenteou com uma pérola, que, com certeza, fez Guimarães Rosa, o Grande Sertanejo, sorrir lá de onde ele mora: "Se até as pedras se encontram que dirá as pessoas!".

Eu fiquei muito alegre e indescritivelmente emocionada em participar de um projeto como esse. Imagina, coordenar duas mesas com esse desenho! Meu Deus!!! Que grande presente! Saí dessa breve experiência mais bonita, lembrando muito do meu mestre João do Lino Mar, o capitão dos Catopês de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, lá de Bocaiúva, Alto Jequitinhonha. Ele me dizia: "Minha filha, nunca se esqueça que a vida é trabalhar, cantar, brincar e rezar!". E ali, naquele singelo gesto de coordenar uma conversa, eu trabalhei, cantei, brinquei e rezei...

Viva as vozes dos mestres de agora e sempre...

VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Déa Trancoso a serviço do Vozes de Mestres em Ouro Branco . Julho/2009