quinta-feira, 30 de julho de 2009

Vozes de Mestres em Ouro Branco!!!

Minha gente, participei do seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...", parte da programação do II ENCONTRO INTERNACIONAL VOZES DE MESTRES, que este ano é convidados de outros dois projetos também muito interessantes: o IV Festival de Inverno de Ouro Branco, que acontece até dia 2/8, e o CCBB Itinerante que vai de 25/8 a 10/11/2009, e vai passar por Natal, Curitiba, Belém, Joinvinlle, São Luiz do Maranhão e Florianópolis.

É necessário e urgente compartilhar a experiência honrosa que tive em Ouro Branco com vocês...

A "responsa", como a gente diz no sertão, se deu em dois dias. No primeiro, presenças de Mestre Humberto Maracanã, Mestre Jorge dos Arturos, Mestre João Bá e Mestre Dércio Marques.

Dércio começou declarando que "nada mais é do que um repórter de seu tempo, um observador de Mestres". Disse ainda que estava muito feliz de ver reunidos numa mesma mesa o Maranhão, através de Mestre Humberto, e Minas Gerais, representada por Jorge dos Arturos. Para ele, Maranhão e Minas possuem muitas coisas em comum.

João nos presenteou com a forte história de sua vida, que mais poderia ser chamada, se fosse título de um filme, de "A História de João, um Brasileiro". Baiano de nascença, radicado em São Paulo há mais de 40 anos, João, na sua trajetória até "sampa", passou por Minas (especificamente o Vale do Jequitinhonha) e comia uma farinha de mandioca que precisava ser lavada sete vezes devido ao alto teor tóxico. Uma vida de adversidades que deu numa parceria pra lá de gloriosa com Glauber Rocha em "Deus e o Diabo na Terra do Sol", mais tarde. João está sempre sorrindo...

Jorge nos contou a história da Comunidade dos Arturos, lugar onde vivem os "homens pretos do Rosário" e a trajetória de preservação e respeito à cultura africana já há quatro gerações, desde que o patriarca Arthur chegou naquelas bandas para "assentar sua praça"...

E Mestre Humberto Maracanã, que mais tarde mostrou a força de seu maracá de prata, na apresentação do Boi de Maracanã/São Luiz do Maranhão, celebrou o título conosco. É que, segundo ele, só depois de voltar de sua viagem a Minas, iria aceitar, sem questionar, o tal título, que o vem "rondando" há algum tempo, já que foi até nome de prêmio pelo Ministério da Cultura.

Humberto é uma prova viva de mestrança. Forte, humilde, extremamente lúcido e consciente de seu papel no mundo. Disse que "o primeiro Mestre é Deus!". "É dele que ganhamos este título, que, na verdade, só aumenta a disciplina e a responsabilidade!" Num dos quesitos prioritários para um Mestre, Humberto tira nota dez: já passou o talento para frente. Três de seus filhos receberam do pai a excelência para entoar as cantigas do boi e brandir o maracá. São vozes poderosas, quase tão troantes e bonitas quanto a sua. É mesmo muito emocionante ver que o Boi de Maracanã é de fato a soma de esforços de uma grande família que trabalha para não deixar perecer uma das manifestações mais oníricas da cultura popular nordestina...

E foi com Humberto Maracanã que aconteceu um fato curioso. Há tempos, conheci uma toada de boi e fiquei "encafifada" para descobrir o significado da letra cheia de símbolos. Daí, aproveitei a oportunidade de ter ali do meu lado um dos maiores cantadores de boi do país e cantei a ele. Ele ouviu com um sorriso maroto e me disse: "essa toada é minha!". E me explicou tim tim por tim tim... Saí dalí me sentindo uma privilegiada! Como é que Deus faz isso comigo?! Me põe diante do dono da toada que ninguém sabia o queria dizer... Divinamente maravilhoso! Incelente maravia!!!

VOZES DE MESTRES - SEMINÁRIO
O seminário "Brasil: quem somos nós? E como chegamos a ser o que somos...?" cria raro lugar para a voz dos mestres de ontem, hoje e amanhã, promovendo encontros e conexões não menos raras. Quanto mais vivemos, mais descobrimos que tudo nessa vida é herança. Diz a canção do mestre Gonzaguinha: "Toda pessoa sempre é marca das lições diárias de outras tantas pessoas". Hoje andarilho sedento, amanhã fonte que saciará a sede de muitos. Assim foi. Assim tem sido. Assim é a humanidade "desde que o mundo é mundo", como dizem os antigos. Os saberes vão passeando de mão em mão, de gente em gente, de geração em geração. Criar um espaço para ver o Brasil passar fervorosamente, sem parar, é o que nos levou a "inventar" essa oportunidade de ternura e troca tão necessárias para curar a infeliz aspereza dos dias atuais...

Amanhã conto o segundo dia!!!
Beijos no coração...
Déa Trancoso, a serviço do Vozes de Mestres!!!

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