domingo, 25 de outubro de 2009

"EU ACHO QUE ESTOU FELIZ E TRISTE..."

Toda vez que um mestre se encanta, há no ar um cheiro de tristeza e alegria. Para muitos, pode parecer um paradoxo. No entanto, para quem já atravessou "o portal" é plenamente compreensível. Diz uma canção de kleber Albuquerque: "eu acho que estou feliz e triste, tudo que eu tenho cabe na minha mão, e eu te dou de coração, e eu te dou de coração... eu não preciso de nada, o mundo é minha casa, o céu é minha camisa, estrelas vestem meus pés... eu não preciso de nada, estrelas vestem meus pés...".

Toda vez que o criador chama de volta um mestre ficamos felizes e tristes. A tristeza é sentida pelo corpo material que acredita apenas no bocado palpável da existência. A felicidade é celebrada pela parte extemporânea, divina, sagrada, aquela consciência que enxerga além dos muros da "realidade". Este "algo" que chamamos de alma, de espírito, e de tantas outras coisas, exulta porque mais um SER viaja de volta à casa do Pai.

A história do planeta está intimamente ligada à sabedoria de seus povos antigos. À devoção daqueles que se curvam e se deitam no colo terra, a verdadeira mãe. É assim aqui no Brasil, é assim na África, ainda é assim com os aborígenes na Áustrália. Em todos os lugares, eles estão lá para dizer como foi, como é; nos legando a matéria-prima que nos faz ser o que somos: a memória...

A memória de um tempo que não foi nosso e que legitima e dá sentido a este que é o nosso tempo. A história do planeta é feita por aqueles que vestem os pés de estrelas, cuja roupa é feita de céu, que trazem nas mãos tudo que precisam e que, no último suspiro, devolvem, de coração, a quem é de direito...

Disse-me Geovana Jardim que as últimas palavras de mestre Nelson Jacó, um desses antigos filhos da terra, que se encantou essa semana, foram: "eu estou indo, meu Deus, eu estou indo...". Belíssimas palavras para um último suspiro! "Eu estou indo, meu Deus, eu estou indo...", bem que poderia soar como "eu acho que estou feliz e triste, tudo que eu tenho cabe na minha mão, e eu te dou de coração, e eu te dou de coração... eu não preciso de nada, o mundo FOI minha casa, o céu É minha camisa, estrelas VESTEM meus pés... EU NÃO PRECISO DE NADA, ESTRELAS VESTEM MEUS PÉS...".

Cada vez que o Criador chama de volta um mestre que tem os pés vestidos de estrelas, o céu fica mais iluminado. Cada passo que este SER ENCANTADO dá neste céu, uma trilha brilhante aparece para que a nossa saudade do futuro tenha abrigo, para que os homens não se esqueçam de lembrar, para que os lembrados continuem caminhando...

VIVA A MEMÓRIA DO SER ENCANTADO, DE CODINOME MESTRE NELSON JACÓ, QUE CAPINANDO, CANTANDO, TOCANDO VIOLA E DANÇANDO, DALI DO SEU CANTINHO CHAMADO JEQUITIBÁ, SERTÃO DO SERTÃO MINEIRO, DEIXOU UM RASTRO DE LUZ NA HISTÓRIA DA MÃE TERRA...

Déa Trancoso

Um comentário:

Unknown disse...

Sou musico e folclorista de Sete Lagoas, conheci o "Mestre" e por varias oportunidades bati papo por longas horas, e so tenho um sentimento a sua perda, com certeza o "PAI" estava precisando de alegria no ceu por isso ele nao está mais no nosso meio...
A Ana Euza, cabe a você nos guiar daqui pra frente, junto a cultura do "Mestre".
Um abraço de um discipulo que na sua humildade jamais mereceu a atenção desse grande "MESTRE"...
SAÚVA!!!