sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AOS 45 ANOS, O GRANDE RAMIRO MUSOTTO SE ENCANTA...

FOTO MARCELO OLIVEIRA


Ontem, fazendo algumas pesquisas na net, me deparei com a notícia da morte do percussionista argentino, radicado no Brasil (em Salvador/BA), Ramiro Musotto. Gênio na sua escolha de fazer do som percussivo sua comunicação com o mundo, Ramirito, como era suavemente chamado pelos amigos que o conheciam mais de perto, deixa eterno legado.

O legado do percussionista que inovou, trazendo para o berimbau, que parecia ser seu grande amor, luzes, cores e tons que modificaram para sempre o jeito de ouvir o som deste instrumento. Disse certa vez em uma entrevista que ao ver Naná Vasconcelos tocar o berimbau, se apaixonou e nunca mais foi o mesmo. De fato, Naná, e depois Ramiro, deram à beriba um lugar de destaque na Música. O que antes era apenas um instrumento exótico de percussão, ganhou lindo e corajoso lugar no mundo da melodia e da harmonia.

O legado do ser humano bacana que ele foi. Tive a alegria de tocar com ele num show que fiz no Teatro da Biblioteca, em novembro de 2007. Aliás tive alegria dupla de juntar nesse mesmo concerto, Ramiro e Djalma Corrêa, outro grande percussionista! Fizemos algumas músicas do CD TUM TUM TUM, depois, ele fez um solo de berimbau tão impressionante, que, em certa altura, achei que tinha um pianista no palco, tamanha delicadeza de sons que ele conseguia daquele "irmão-instrumento", e finalizamos, eu, ele, Djalma Corrêa e Serginho Silva (outro percussionista interessantíssimo) fazendo "Berimbau", de Baden e Vinícius, numa grande ode à beriba.

Descobri o jeito de convidar o Ramiro, através de um colega de orkut, o argentino Juan Trasmonte. Juan me deu um mail para falar diretamente com Ramiro e aí começamos a conversar a respeito da possibilidade de ele vir como convidado especial desse show. Conversa tranquila, discutimos cachê e tal. Ele aceitou prontamente "o que eu podia pagar", como disse a ele. Aí, ele me fez um pedido tão singelo que ali vi que era uma pessoa simples e "normal". Ele me disse: déa, não se esqueça que meu nome é Ramiro Musotto, com dois tês e não com dois esses, como a imprensa costuma grafar.

Fomos buscá-lo no aeroporto, eu e Wilson Dias, e quando aquele homem de porte atlético apareceu na porta da sala de desembarque, sorrindo, pensei: uai, acho que esse Ramiro Musotto é mesmo uma pessoa simples e "normal". Aí, passamos o som, e quando ele viu que eu não tinha produtor, que fazia todas as coisas, ele me chamou, me abraçou, beijou minha testa e me disse, antes de eu entrar no palco, "vai que eu estou aqui com você para o que der e vier...".

Achei de um respeito, de uma delicadeza... Coisa de mestre. Coisa de gente que sabia comungar, compartilhar... Coisa de gente que já andou muito no Grande Caminho... Nunca me esqueci desse gesto.

Portanto, agora, escrevendo esse texto, estou emocionada de ter convivido, mesmo que por breve tempo, com Ramirito...

Que ele descanse na pausa do som...

Um comentário:

Juan Trasmonte disse...

Dea, belíssima homenagem. Fiquei emocionado por ese gesto na chegada no aeroporto, gesto em que reconheci o grande artista e amigo. É muito difícil pensar que não teremos mais sua presença, mas ele deixou tanta arte e carinho que isso conforta.
Aproveito para deixar também o link da matéria que escrevi para o jornal Crítica de Buenos Aires (a manchete foi escolhida por eles), poucas horas depois do Ramiro partir.
http://criticadigital.com/impresa/index.php?secc=nota&nid=30637

Grande abraço
Juan